Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

VITRINE


Naquele dia, sem saber o porquê, estava triste, quase deprimida, sentindo-se só… Como era independente e não dividia seu espaçoso apartamento na cobertura do Manhattan com ninguém, a solidão às vezes era insuportável. Dinheiro e sucesso não são tudo (em certas horas)… nessas ocasiões sabe o que Ianna fazia? Se você acha que tomava antidepressivos, enchia a cara com alguma bebida alcoólica, ou comia com os olhos… o caríssimo leitor está redondamente enganado… Ela simplesmente saía, sem destino, pegava o carro, enchia o tanque e rodava toda a cidade.
Aquela quarta-feira foi assim. Após duas horas de viagem, estava muito deprimida, por isso, decidiu ir ao shopping fazer compras. Aos poucos a alegria voltou, ela sorria… como não pensara nisso antes? De tão excitada com a idéia que teve, desceu do carro apressada e não trancou a porta. Por sorte o flanelinha viu e avisou. Aquele gesto raro, nobre, foi recompensado, ela deu trinta reais.
Ianna nunca teve coragem de ir àquela loja, suas amigas já falaram, até passando na rua já escutou outras mulheres recomendarem… Aproximou-se receosa.
Na vitrine via-se um médico ruivo, magro, sardento, de óculos. Não, não dava pra ela. Olhou para o lado, havia um pedreiro, mameluco, com uma cicatriz diagonal no tórax. Aquilo a excitou, mais ainda não era o que queria. Olhou um pouquinho para trás, havia um policial, um sorriso cínico, entretanto, pelo cassetete que segurava na mão com tanta veemência, supôs que não era muito carinhoso, conseqüentemente, também não dava. Ao lado esquerdo um taxista, imundo e machista. Pensou:
- Esse nunca!
No canto direito, um jogador de futebol, muito feio… ela não precisava de status nem de dinheiro. Vizinho deste havia um padre. Ela sorriu e disse para si mesma:
- Quem sabe um dia?
Depois de ficar uma hora na vitrine, avistou um juiz, um traficante, um cientista, um poeta, um louco… mas ainda não tinha encontrado o que queria para aquela noite, então, timidamente, entrou na loja e dirigiu-se à recepcionista.
- Boa noite! - Disse a recepcionista, dando o sorriso recomendado pelo gerente.
- Boa.
- Em que posso ajudá-la?
- É que… que… que…
- A senhora quer um homem?
- É isso mesmo. - Sua face ficou vermelhíssima, era totalmente perceptível que estava muito envergonhada.
- Mas isso não é problema…
A moça sai do balcão, pega amistosamente no ombro e a guia no interior da loja para mostrar todos os homens que ela já tinha visto.
- Eu já vi todos esses.
- E já escolheu o que quer?
- O problema é esse, não tem nenhum que me agrade.
- E qual o tipo de homem que a senhora quer?
- O mais canalha, mais sem vergonha, mais cínico, mais carinhoso, mais infiel, um que não valha um centavozinho.
- Ah!
- Vocês têm? - Indagou animada.
- Sim, temos, mas é o mais caro.
- Por quê?
- Porque é o mais procurado, normalmente há reservas, porém… como ele chegou a pouco, e hoje é quarta feira, e é a primeira vez que a senhora aparece, abrirei uma exceção, darei alguma desculpa para moça que o reservou.
- Obrigada.
- Não há de quê, mas prometa-me que devolverá amanhã, sem falta.
- Prometo, prometo… Cadê ele?
- Caramba… (sorri) a senhora realmente está precisando de um homem pra hoje.
A recepcionista retorna ao balcão, pega no interfone w ordena.
- Diga ao Ricardo que apareça aqui urgente, que venha pronto pra ir trabalhar.
Em pouco tempo surge um homem musculoso de boné, e um medalhão com um crucifixo de cristal… Aquela visão a deixou completamente molhada, quase teve um orgasmo visual. E quando saiu do êxtase, o homem estendeu uma chave e disse:
- Moça, a senhora também esqueceu a chave na ignição.
Ianna teve um susto, o homem que ela tanto procurava, e que agora estava alugando, era o flanelinha.


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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung