Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Mundo não me cabe...



O mundo não me cabe...

As pessoas se acostumaram
A viver sem vontade
De esperar aquilo que sonham
Vir à realidade.

O mundo não me cabe...

O Padre perdeu a esperança:
Ninguém sorri, nem a criança.
Só há maldade.

O mundo não me cabe...

Os poetas são estranhos,
São loucos; têm saudade
Do mundo que sonhamos.

O mundo não me cabe...

Pois ele deixou de ser real;
Em qualquer cidade,
É um filme de ação no telejornal.

Definitivamente,
o mundo não me cabe.






--------------------------
Comentário:

Essa poesia foi escrita em 21/09/2003 às 3h05min. Lembro-me que na ocasião tinha visto um telejornal, e mais uma vez fiquei estarrecido com o sensacionalismo que muitas vezes fazem com as desgraças alheias, ou o desdém dos órgãos governamentais que resumem tragédias em dados estatísticos.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Método




Ouça o silêncio,
Decifra-o,
Esmiúce as entrelinhas.

Seja mouco para as futilidades,
Ou então, recorra à metamorfose
E lhes dê algum valor.

Apaixone-se pelo próximo,
Pela sua simplicidade,
Por ser simplesmente humano.
Mas evite o amor póstumo!

Atente para seus desejos.
Sinta-se assexuado,
E, de ouvido apurado
Para ouvir o silêncio...
Para ouvir você mesmo.

Só assim, pegue sua pena,
Lápis ou caneta,
E exploda o universo das letras.
Pois desse Big Bang
É que nascem as galáxias dos poemas.



--------------------------
Comentário:

É inevitável. Vez por outra os poetas repensam a própria arte e mergulham ainda mais na essência que os definem enquanto criaturas de Deus. Esse poema foi escrito a partir desta reflexão há alguns anos atrás.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ontem Nasceu Um Poema



Ontem nasceu um poema.

Um poema bestinha,
Pois sua rima
Não era rica,
Era triste, sem vida,
Cheia de dívidas.

Sim, dívidas!
Devia explicações
Sobre questiúnculas
Existenciais.

Ele nasceu aparentemente sem propósito,
Como o peregrino
Que intercalando passos
Segue seu caminho...

Quem vê, lê ou ouve sobre sua caminhada,
Não entende... Mas ele sim,
Assim como o poema
Sabe por que nasce,
Caminha e segue em frente.






--------------------------
Comentário:

Essa poesia foi escrita em 24/03/2001. À partir de um diálogo de um filme que aprecio muito: “O Carteiro e o Poeta”, onde a personagem de Pablo Neruda diz ao aprendiz: “A poesia não é de quem escreve, mas sim de quem precisa dela”. Lembrei dessa frase essa semana quando um querido amigo veio agradecer pelos dizeres da última postagem. É o tipo de coisa que nos emociona e nos estimula a seguir em frente. Obrigado a todos!


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Soneto da Libertação




Surfando num mar cheio de lembranças
Tiro férias de mim e do mundo.
Tempo passa... Fico alheio às mudanças
E me despojo dum ser imundo.

Em flashback fatos obtêm claridade
Ressuscitando emoção esquecida:
Descoberta d’alma... Divindade.
Que junta defeitos e os remedia.

Catarse: Revisito-me, abraço-me.
Vejo-me bebê, criança, adulto e velho.
Escuto sonhos, fantasias, paixões, teorias... Aprendo-me.

Neste turismo de mim, fico nu... Descoberto.
Redescubro-me feliz... Alegro-me.
Encaro meu eu: O escuto, aconselho... O liberto.




--------------------------
Comentário:

Essa poesia foi escrita em 24/09/2009 às 7h30min. Num dos inúmeros momentos em que entrei num casulo de reflexões e repensei atos e comportamentos. Um processo, na maioria das vezes, mas necessário. Mas que por fim, sempre nos liberta.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A Casa



A possibilidade de casamento existia há muito tempo. Um conheceu a família do outro, ambos se informaram sobre os podres que só os parentes mais próximos e amigos de infância conhecem. Mesmo assim, um pôs o simbólico anel no dedo do outro. Tudo estava perfeito. Os dois tinham onde cair morto, o só faltava a casa, afinal de contas, “quem casa quer casa” e não poderia ser uma qualquer. 

O noivo não fazia exigências, o que sua amada decidisse estava decidido e pronto. Entretanto, para a moça, uma coisa era imprescindível: A casa escolhida deveria situar-se próxima ao trabalho dela. Há algo pior do que começar o dia num engarrafamento ou num ônibus super lotado? 

Ela queria morar num lugar onde pudesse ir ao trabalho sem precisar ofender a mãe de nenhum motorista ou perder a paciência procurando vaga no estacionamento; onde pudesse ir a pé, até preferia, pois achava muito inspirador.

A procura durou três anos. Não que ela não tivesse encontrado nenhuma, é que sempre o noivo punha defeito em alguma coisa: "É muito quente, pequena, não gosto da cor..." Assim, o tão sonhado casamento era protelado, cansando-a. 

Um dia, enquanto saboreava um belo cachimbo a avó da noiva ouviu sua neta comentar a tristeza que sentia por não encontrar a casa perfeita, e falou: "Minha filha, você vai encontrar a casa perfeita, seu noivo está lhe enrolando. O problema é que ele mora com a mãe e mais doze irmãos e está com medo de você sair para trabalhar, e deixá-lo sozinho." A neta não levou aquela opinião a sério, apenas sorriu dizendo: "A senhora tem cada idéia!" Contudo, aquilo não entrou por um ouvido e saiu noutro, ao contrário, fez eco em sua alma.

Com o tempo outras casas e outras desculpas surgiram, até acharem a melhor de todas: grande, próxima e linda. Mas ele não quis. Aquilo foi demais pra ela, então começaram a discutir, e no auge da discussão ela gritou: "Você está é com medo de eu ir trabalhar e ficar sozinho nesta casa enorme!" Chorando, o noivo confessou. Porém, não foi motivo pra terminarem o noivado: O AMOR ERA MAIOR DO QUE A CASA.

Depois de soluços, beijos e abraços resolveram marcar a data do casamento e decidiram que cada um iria continuar morando em seu respectivo lar. Ela sozinha, e o noivo continuaria com a extensa família.

Casaram, se amaram, e foram felizes para sempre até a mudança de um vizinho bonito, independente, sarado e que não tinha medo ficar sozinho.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Amor é...




O amor é
A poesia dos livros.
O amor é
O que diz “Coríntios”.


O amor é
Matéria densa, animada!
O amor é
A vida sentida no pulsar
De um primeiro beijo.

O amor é
O que cada pessoa pensa que é.
O amor é
O que duas pessoas concordam que é.
E é diferente para cada pessoa que ama.

O amor é
O que nos motiva
A trocar um computador
Por um livro velho.
Pois nada é velho,
Se há amor.






--------------------------
Comentário:

Essa poesia foi escrita em 18/09/2003 às 1h53min. Na ocasião estava sofrendo de um típico sentimento do poeta, o amor silencioso, contido, não anunciado, que só se manifesta em versos. Do tipo que transborda romantismo. Mas como dizia o grande poeta: “Tudo vale à pena se a alma não é pequena”.