Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Prece de Noel




Que no natal do Senhor Jesus,
Possamos abrir as portas da bondade,
Consolar os tristes, vestir os nus,
Difundir comunhão e solidariedade.


Que possamos seguir o exemplo divino
De paz, de verdade e amor ao próximo.
Que possamos estabelecer compromisso
Com a essência que nos torna imagem
E semelhança do Criador
Para que diante de qualquer adversidade
Lembremos que juntos somos um.


Que o espírito natalino,
Fomente em cada um de nós o dom do amor,
Da fraternidade, da justiça e do carinho.


Que Neste natal e em todos os natais,
Recebamos as bênçãos de Deus,
Que os anjos digam amém, nos protejam
E amparem em nossa longa caminhada,
Para que o caminho seja repleto de flores e bons frutos.


Feliz Natal! 


* Livre adaptação e inspiração à partir  de diversas mensagens natalinas de autores desconhecidos.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Capitalista, O Eremita e O Revolucionário




O dia começa, e com ele, novas desgraças nos são apresentadas através dos telejornais, dando-nos a falsa impressão de que tudo está perdido. Somos informados sobre o sequestro de um motorista de ônibus que não quis conduzir dois fugitivos para longe da cadeia, somos vítimas da máfia do comércio que superfatura o preço dos produtos, de gestores que terceirizam escancaradamente serviços públicos, de políticos mal intencionados que desviam verbas que deveriam servir para garantir saúde, educação e vida com um mínimo de dignidade... - Falando em políticos, já reparou como as campanhas publicitárias partidárias tentam nos convencer que aquelas pessoas sorridentes do comercial pegam o mesmo ônibus que você, são furtadas como você foi furtado no Terminal de Integração, levaram um tombo como você levou por causa de uma frenagem brusca do motorista despreparado que atende a todos com uma cara de ódio do mundo, e de que a sua cidade está às “mil maravilhas”?... - Não seria bom viver naquela cidade, estado e país dos horários políticos? - Como não bastasse, somos vítimas de nós mesmos, dia após dia, quando ao invés de seguir em frente, só damos ouvidos ou gastamos nosso precioso tempo com lamentações.
Há tanta coisa errada e ninguém vê; ou finge. Lutamos pelas eleições diretas, “tiramos” um presidente do poder e nada mudou. Pra se ter uma ideia aos profissionais que cuidam do maior bem que Deus nos deu, o dom da vida, através do policiamento ostensivo, trabalham sob o manto de uma legislação da época de ouro da ditadura militar. Entretanto, a esperança ainda nos aconselha a fazer greve, manifestações, caminhadas, resistirmos, mas somos presos, processados, apanhamos e perdemos o emprego. E nada muda.
O povo está cansado, pois sabe que no fim da vida há três caminhos: Basta visitar quaisquer asilos e prestar um pouco de atenção.
Há o capitalista que durante a juventude teve do bom e do melhor, e hoje, só tem a mágoa da usura de parentes que tomaram todos os seus bens, deixando-o apenas com a roupa do corpo, revivendo a decepção em cada lágrima. Diz que tem mais motivos para viver, só lhe resta a exclusão que é a sua passagem para a morte.
Há o eremita que se isolou do mundo aceitando a televisão como companheira inseparável, e dona da verdade absoluta. Não tem amigos, diversão, para ele as desgraças alheias dos telejornais são apenas capítulos de um péssimo folhetim. Não tem amor para com o próximo, não é solidário, acha que Deus esqueceu-se da humanidade, e o que é pior, dele.
E há o revolucionário cheio de cicatrizes, que caminhando a muito custo grita aos prantos que a vida só vale a pena ser vivida, se o indivíduo não se conforma ou jamais se conformará vendo um irmão ser discriminado seja por qualquer motivo, não aceitar a exploração do trabalhador seja na esfera privada ou pública, não engolir o sapo gordo da impunidade, não recepcionar intervenções do estado quando este não deveria agir, a exemplo da desnecessária “lei das palmadas” e ausência de ação do mesmo estado quando pessoas morrem nos quatro cantos da República Federativa do Brasil, em pleno 2011, em virtude de hipossuficiência econômica, que acredita que a vida só deve ser vivida se for com dignidade.





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Comentário:

Esta crônica também foi escrita em meados de 2001. O tema veio da ideia central do meu primeiro livro de contos e crônicas “O Girassol que não Girava” que tinha a pretensão de colecionar pensamentos e reflexões sobre o nosso cotidiano. Também um resgate da época do menino-escritor-engajado presente no livro de poesias “Frenesi”, onde ao contar 14 anos escrevia muitas poesias de conotação política. O título original desta crônica era “Três Caminhos”, mas mostrou-se muito genérico e deslocado da proposta do texto. É bom recordar. Só não é bom ver que quase nada mudou.

 


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Jingle Bells



 
Quando olhei o céu daquela tarde de sábado, pensei que contemplava alguma obra prima de "Da Vinci" ou "Picasso". O dia estava perfeito! O sol, como sempre, observava o mundo. Sua beleza e imponência eram refletidas na vidraçaria do "Shopping Center". Por minha vontade contemplaria aquela cena até vê-lo adormecer, mas por insistência de um amigo fui para o templo do capitalismo selvagem: O Shopping Center.
Enquanto meu amigo comia um "Mac Donald", fui fisgado pelas ondas sonoramente divinas que vinham de uma loja de discos: Bolero de Ravel. Infelizmente, o que é bom, dura pouco, pois alguns mauricinhos e patricinhas reclamaram ao gerente, e, o vendedor teve que calar Ravel para tocar a “dança do serrote”. Detesto quando vejo, na prática, a visão apalermada de vida de algumas pessoas. Elas não enxergam que somos compostos orgânicos constituídos pelos mesmos átomos, sou seja, independente de raça, cor, origem e classe social, somos iguais. Néscios, só sabem encarar as pessoas procurando convencê-las de que o  mundo é de quem nasceu para conquistá-lo.
Evitando participar daquela vulgarização, refugiei-me na vitrine de miniaturas… Alguns desses seres que se julgam humanos e reservam-se o direito de serem humanos somente às vésperas do natal, motivados pelo apelo comercial da figura do Papai Noel, e não de sentido real, o Cristão, são menores que estas bonequinhas.
Uma vendedora ligou uma boneca que começou a dizer inúmeras vezes, pra mim, um desconhecido filho de Deus, "Eu te amo". Engraçado, vejam só aonde chegamos: Valorizaram tanto o materialismo e o individualismo que a boneca ficou mais humana que todos nós.
Fiquei muito comovido com o singelo gesto da bonequinha, e ficaria por horas ouvindo-a se não houvesse um súbito tumulto em meio à Pra de Alimentação: uma moça de aparência humilde passou mal e após agonizantes gemidos, desmaiou.
Para os burgueses que ali circulavam atarefados em escolher presentes para seus amigos secretos, aquilo não passou de uma ceninha, tipo teatro de rua, e se dispuseram a apenas assistir por meia hora. Não fizeram nada pra ajudar, ficaram apenas admirando o padecer da enferma.
Os gerentes ordenaram que os seguranças não autorizassem que ninguém mais se aproximasse, tampouco que os funcionários os socorressem, pois as vendas estavam fervendo e aquele ritmo não podia ser interrompido. Afinal, como  gostava de repetir aos seus subordinados nas reuniões de início dos trabalhos: “Vamos vender, vender muito”... Afinal, não é todo dia que as pessoas estão com amor no coração e dispostas a gastar. E aquele dia estava ótimo, se brincasse perderia apenas para o natal... E para ele, prejudicar as vendas em época natalina, era um pecado, era uma heresia.
No auge da agonia da desconhecida, um auxiliar dos serviços gerais que acabava de lavar os sanitários, correu até a moça bradando aflito uma sequência amplamente variada de neologismo apropriada para denegrirem a imagem dos palermas burgueses, mas eles não deram importância.
Comovido e ao mesmo tempo chocado com a reação das pessoas, o herói anônimo, tomou a jovem nos braços e dirigiu-se a porta. Antes de sair, uma déspota voz ameaçava demiti-lo se não voltasse para seus afazeres. Emocionado, o servente, falou soluçando, com o pesar das dores do mundo.
- Prefiro perder o emprego à minha dignidade.
Em seguida dirigiu-se a porta e levou a garota nos braços para o Hospital mais próximo, a pé, ninguém o acompanhou.
Já era noite, os energúmenos burgueses continuaram fazendo suas compras ao som de Jingle Bells.

 


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Comentário:

Esta crônica foi escrita em meados de 2001. Lembro que fazia pouco tempo que tinha tido o privilégio de conhecer a poética de Álvaro de Campos, um dos fantásticos heterônimos de Fernando pessoa. E entre tantas pérolas uma em especial me fisgou: “Tabacaria”. Principalmente o trecho: "Vivi, estudei, amei e até cri, agora não há um mendigo que eu não inveje só por não ser eu." . A ideia de escrever esta crônica veio da experiência de sentar na praça de alimentação e visualizar milhares de estranhos se cruzando na época natalina, olhando para o chão, para não correrem o risco de olhar de frente para algum estranho e ter que dizer um “Boa noite!” Cheguei em caso com esse sentimento vergonhoso do que nos tornamos e comecei a escrever esta crônica, que hoje sofre uma pequena adaptação para contextualizar com os tempos de hoje.

 


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Para o Amor...




Para o amor,
Somente amor...

Para um pedido
De explicação,
Somente amor.

Para um olhar incompreendido,
Somente amor.

Para mão suada,
Somente amor.

Para um olhar fugitivo,
Somente amor.

Para qualquer lágrima,
Somente amor.

Para um abraço
Desesperado,
Somente amor.

Para um sorriso sem esperança,
Somente amor.

Para um pedido de compreensão,
Somente amor.

Pra as horas tristes,
Alegres, de ciúme bobo,
Somente amor.

Para uma vida feliz
Consigo mesmo ou a dois,
Somente um puro
E recíproco amor.




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Comentário:

Esta poesia é uma das minhas preferidas, pois é simples como o amor deve ser. Foi escrita no dia 22/03/2004. Após a concepção, na mesma noite, de outras duas poesias. Foi uma noite produtiva em que o universo conspirou a favor da manifestação literária.