Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

À Raposa de Saint' Exupery




G randes momentos surgem de gestos pequenos.
R iscos calculados não são riscos.
A braços contidos não são abraços.
Z igotos fecundam pessoas, sonhos e destinos...
I dem para o sentimento puro, inesperado e fascinante:
E U TE AMO se materializa dia-a-dia, num jeito cativante.
L ibertando traumas e aproximando-se sem medo.
L aços como o da raposa de Sant’ Exupery não é utopia.
E xiste. É amor. Não é segredo.




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Comentário:

Esta poesia foi escrita hoje, 1h51min, entretanto há alguns meses já existia na mente à espera do instante em que iria para o papel. A oportunidade foi a singela homenagem que intentei fazer para minha querida amada namorada, em comemoração a mais um aniversário de namoro. Por extensão, a respectiva poesia é alusiva à fantástica obra-prima “O Pequeno Príncipe”, sobretudo o maravilhoso diálogo da raposa com o príncipe:


 “Se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro.
          Serás para mim ÚNICO no mundo. E eu serei para ti única no 
          mundo...” – Saint’ Exupery


quarta-feira, 27 de julho de 2011

No Bar


No bar o violonista toca
Belos clássicos da MPB
Ou alguma “da parada” das FM’S
Que tenha conteúdo, emoção... Memória.

E quando anuncia
Mais uma música preparada
Com carinho para os casais
E os ouvidos dos enamorados,
Um Homem rompe a melodia, sem dó:

- Garçom! Mais “treis pastel” e quatro cerveja!

Quanta insensibilidade...

O Homem atropelou a gramática
E a sintonia entre música,
Platéia, garçons, casais...
Juras de amor eterno
Ou de renovação.

Mas dois românticos
Não se abalam.
Pois eles, a música,
A poesia, e o amor são um só.

Não são desse mundo...
Desse mundo que ignora as manifestações artísticas,
Desse mundo que não tem fome de arte,
Apenas de pastel.

Os namorados têm fome de amor!




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Comentário:

Esta poesia foi escrita em 08/08/2007 às 19h53min. Lembro que comecei a rabiscá-la assim que cheguei em casa após passar uma tarde num Shopping da cidade. Estava na praça de alimentação e ouvi um violonista que tocava uma boa música enquanto algumas pessoas discutiam para escolher o que iriam lanchar. Foi angustiante ver que 90% ignoravam a bela música. Cada um preso na superficialidade de um mundinho egocêntrico, limitados as necessidades físicas e deixando de lado as primordiais prioridades da alma.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Utopia



Há muito tempo
Temos consciência
De que a corrupção é uma desgraça...

Sinônimo da tristeza, pobreza,
Azar, morte, para muitos.
De riqueza, impunidade
E sorte para poucos.

Intrinsecamente está ligada
Há outros males como:
Egoísmo, tráfico e consumo de drogas,
Falta de educação e o capitalismo selvagem.

O egoísmo e a corrupção
Caminham de mãos dadas,
Degradando a humanidade  há séculos.
Transformando saúde, paz e amor em passado,
Com auxílio das armas e o fútil progresso.

Nossos cuidados para com nosso BRASIL
Devem ser múltiplos,
Pois os erros dos nossos pais
Eram concertados em décadas,
Hoje, em séculos, milênios...
Ou talvez não haja possibilidades.

A corrupção é uma doença,
Sinônimo de apodrecimento cultural,
Intelectual e familiar.

Somos vítimas de séculos de exploração,
De colonialismo, de sobreposição de vontades
De famílias poderosas e oligárquicas,
Mas mesmo assim é errado
Persistirmos na crença da fatalidade.

Ninguém é pobre porque Deus quis,
Ninguém tem seus direitos negados porque Deus quis,
Ninguém tem fome de salário digno,
Educação e saúde porque Deus quis.

A culpa é nossa!

Nossa porque a maioria de nós elegemos os corruptos
Em troca de cargos, comissões, ou favores pessoais.
Votamos em nome de uma democracia
Que defende e representa o interesse de poucos.

A culpa é nossa!

Nossa porque não sabemos conscientizar o povo desde cedo,
Nossa porque não cobramos nossos direitos,
E os mesmos que brigam e exigem a demissão de técnico
Da seleção de futebol quando o time perde um jogo,
São os mesmos que assistem apáticos o auto-reajuste salarial
Dos deputados em mais de 60%,
Mais de 500 trabalhadores serem presos no rio de janeiro por Protestarem porque recebem o pior salário do país,
Ou se conformam com um transporte público desumano e caro.

A culpa é nossa!

Precisamos investir na solidariedade
Para que prevaleça a união,
Desapareça a insatisfação política
E rejuvenesça-se a esperança,
Que há tempos está ferida.

Devemos agir agora,   
Para um dia contarmos aos nossos filhos
Que juntos, conseguimos extinguir o câncer da corrupção,
Que o que um dia foi sonho,
Transformou-se em realidade.

Um país decente,
De direitos e oportunidades iguais é possível,
É nossa responsabilidade!



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Comentário:
Esta poesia foi escrita em 1992. No auge da adolescência. Na época, assim como a maioria de nós, acreditava que “o Brasil era o país do futuro” e que poderíamos mudar o mundo. Ainda gosto de pensar assim. Foi publicada em meu primeiro livro de poesias “FRENESI”  lançado em 2004.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Loira nº 01 (interpretada)



Quando a vi
Pela primeira vez
Tu eras cevada…
E eu te dei água
Para germinar em ti
Um novo amor!

(Quando nos vimos pela primeira vez tu eras outra pessoa, me aproximei e te dei carinho para fazei-la gostar de mim… Quanto à produção de cerveja esta primeira estrofe descreve o processo de malte ação da cevada onde a cevada, armazenada em caixas de germinação recebe água para ser convertida em malte.)

Na segunda vez,
Estavas coberta
De pó e palha…
Mesmo assim,
A recebi de portas abertas
Para logo em seguida beneficiá-la.

(Para nos reencontrarmos percorreste uma longa estrada, como o rapaz apaixonado morava numa fazenda, caminhaste numa estrada de piçarra e assim ficaste suja com pó e palha, e neste estado bateste na porta da minha casa. Estranhei a sua aparência, mesmo assim abri a porta e providenciei para que tomasses um banho. Após a malteação a cevada é encaminhada para as carretas que transportam a cevada para as cervejarias, durante este transporte forma-se muito pó e palha e o malte fica muito sujo por isso assim que chega abrem-se as portas da área de recebimento da matéria prima, e ao mesmo tempo que o malte é descarregado é feito o seu beneficiamento, que nada mais é do que limpeza.)

Dei-lhe cloreto
E ácido lacto…
E ao invés de fenitelamina e epinefrina,
vi consternado,
Os efeitos da ação da beta amilase
E alfa amilase.

(Providenciei a sua alimentação visando a sua saúde. Na medida em que se alimentava, você me encarava, lançava sobre mim um olhar carinhoso, pois começavas a gostar de mim. Quando estamos apaixonados duas substâncias químicas provocam o friozinho na barriga, deixa-nos sem fome e com o olhar de peixe morto, estas substâncias são a fenitelamina e a epinefrina. Na produção de cerveja, com o adicionamento de cloreto de cálcio e ácido lacto o amido da cevada é convertida em açúcar e alfa, ocasionando desta forma uma mudança na estrutura do mosto.)

Dei-lhe calor
E repouso…
Joguei fora o teu bagaço!

(Te abracei carinhosamente e você dormiu, por isso joguei fora tuas roupas velhas e esqueci de quando a vi suja, esqueci de tudo, só fiquei admirando a tua beleza interior. Na cerveja, é necessário o aquecimento da solução. Na temperatura máxima todas as enzimas responsáveis pelo nascimento da cerveja já estão atuando, por isso logo em seguida é filtrada para separar o bagaço dos grãos que foi misturado com água.)

Mas tarde
Dei-lhe duas doses…
E agradeci a DEUS a sorte
De tê-la bem perto,
Cheirosa…
Oh! Deus!
Será que agi certo?
Pois sem querer, deixei-lhe amarga.

(Após o descanso dei-lhe duas dozes de uma bebida alcóolica qualquer, surgiu um clima, avancei nas carícias e você não gostou, ficou amarga comigo. Após a filtração, ao chá formado adicionamos duas doses de lúpulo.[1])

De repente,
Ficaste irada.
Então me fiz prudente
E esperei até seres resfriada.

(Como você não queria chegar aos finalmente, resolvi respeitar a sua vontade, por isso esperei você se acalmar. Após a dosagem do lúpulo, entra água fervente que devido a muita pressão agita o tanque. Logo em seguida o mosto é resfriado para ser misturado com fermento que irá converter o açúcar e o gás CO2.)

E se hoje
Tu és a loira no 1
Do meu coração…
Foi graças a muita paciência,
Carinho e atenção.
Te amo!




[1] Planta que dá o gosto amargo da cerveja.



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Comentário:

Esta poesia foi escrita em 1998 foi uma das primeiras poesias que integraram o projeto de livro "Química Poética" que propunha o ensino da ciência química através da linguagem poético-metafórica. Nessa época em trabalhava numa conhecida cervejaria do meu amado Estado, e de tanto estar envolvido com o processo de fabricação da cerveja vislumbrei a possibilidade de descrever tal processo de forma poética. A poesia é fantástica, com a devida inspiração somos capazes de fazer coisas inimagináveis. Aproveito a oportunidade para agradecer aos queridos professores Marcelo Sapinho, Marcos Conceição e Ana Mercedes que muito estimularam para que eu escrevesse essa obra e apresentasse a proposta didática no Congresso Nacional de Química em Cuiabá realiado naquele ano. Nesta postagem segue a versão comentada. Abraço a todos!





[1] Planta que dá o gosto amargo da cerveja.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

O amor sempre nos encontra



Passamos a vida procurando algo
Que muitos chamam de amor, paixão, alma gêmea,
Mas que, na realidade, não sabemos bem do que se trata,
Mas quando encontramos sabemos que é aquilo!

Talvez esse desejo seja meio vago,
Talvez não haja uma idéia mais clara,
Mas o coração sabe, e aumenta seu compasso,
Quase nos matando de felicidade quando o pressentimos.

Talvez sejam utopias.
Talvez.
Mas é tão real quando o encontramos...
Ou temos essa sensação.

É tão evidente, tão palpável,
Quando temos a sensação de que as coincidências
Que nos faz descobrir afinidades
Sejam as pistas que faltavam
Para encontrar a “pessoa certa”.
É tão simples e tão complicado.

As pessoas reclamam muito:
Não levam em conta que o amor pode estar bem perto,
Basta se despir de preconceitos, estereótipos, futilidades
E abrir o coração.

Alguns, de tanto procurar o amor verdadeiro
Acabam se tornando viciados,
Isso também não é bom.
Pois o vício corrompe a leitura das emoções
e tudo o que vivenciam compõe um museu de frustrações.
E vivem com sentimentos trancados,
julgando o amor futuro pelos erros do passado.

O amor, não deve ser esperado,
Pois ele é maravilhoso porque é ilógico,
Um doce mistério que simplesmente acontece
De acordo com a vontade de Deus,
do universo ou do acaso... Como queiram chamar.

Não importa a religião, crença ou falta dela,
o amor sempre nos encontrará,
Pois faz parte da essência que nos define como seres humanos.





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Comentário:

Esta poesia foi escrita em 19/01/2002 às 02h03min. Enquanto o mundo dormia estava sendo acalentado pela insônia e aquecido por uma solidão que a época era companheira. Como diz um amigo, foi um período necessário de namorar consigo mesmo. Como é bom revisitar os poemas.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Soneto Às Vezes



Às vezes seu prato está sem comida.
Às vezes, você ama, não é amado.
Às vezes não se cura a ferida.
Às vezes magoas... Noutras é magoado.

Às vezes... Palavra não é compreendida.
Às vezes... Brinquedo fica quebrado.
Às vezes você não tem outra saída,
Mas segue em frente, com fé... Encorajado!

Às vezes julgas ter “melhor opção”
E as conseqüências vêm como um “expresso”.
Às vezes... Não entendemos a razão,

E a vida explica com nosso progresso.
Às vezes... É preciso uma explosão
Como o big-bang pra mudar seu universo!




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Comentário:

Este soneto foi escrito em 29/09/2008 às 14hh35min. Foi um soneto terapêutico, concebido para juntar cacos. A poesia alivia, ilumina, corta e sacode todos os que se envolvem com ela, seja poeta ou leitor.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Gíria que mata


              
               Fernando era seu nome. Gente boa pra caramba, entretanto tinha um pequeno defeito: falava muitos palavrões, mas não tinha a intenção de agredir ninguém, era apenas um jeito de se comunicar.

               Quando queria dizer que iria surpreender alguém, falava: “Eu vou te matar!” O internauta deve estar se perguntando: "Como assim?" Bem, levando em consideração que ao se ter uma arma apontada, (revólver, canivete, qualquer coisa) fica-se atônito, o coração dispara e há uma inevitável surpresa, pode até fazer sentido, ao menos pra ele tinha. Quando queria agradecer, falava: “Você é foda!”, para relaxar: “Vá se fuder.”
            
               Enfim, a maioria dos objetos recebiam um outro nome; dinheiro era arma, camarada era o mesmo que “filho da puta” ou “fi da peste”, mas ele não chamava qualquer um de filho da puta não, só os melhores amigos. E ele os valorizava muito, era sua maior riqueza! Pelo menos era o que gostava de bradar todo orgulhoso. E realmente era, pois eles gostavam da pessoa ''Fernando" e o enxergavam com os olhos do coração: Além da aparência, dos vocábulos, da rusticidade... Além do palavrão.

Por incrível que pareça, ninguém o criticava, pois suas palavras não condiziam com suas ações: era gentil, solidário, alguns até adotaram seu vocabulário.

Um dia, ao saber que sua irmã Alagoana estava com a passagem do mundo dos mortos nas mãos, foi visitá-la. Na rodoviária não demorou, pois a notícia já tinha sido espalhada e os funcionários agilizaram a papelada. Era muito bem quisto.

-      Seu Fernando, como vai ser o pagamento? Cheque, cartão ou dinheiro?
-      Se preocupe não fi da peste, hoje tô armado. – Pôs a mão atrás, pegou a carteira e pagou a vista. Todos riram­, e o ônibus partiu.

               Após vinte e quatro horas de viagem, desembarcou e dirigiu-se ao ponto de táxi, mas nenhum dos taxistas deram importância porque um homem que vestia bermuda descalço camiseta e chapéu de palha não aparentava ser um homem rico.

               Com seu jeito inusitado, Fernando encostou num táxi e bradou:

-      Ei fi da peste!
-      Eu?
-      É! Quero que você me leve pra Colégio.
-      Como é rapaz?
-      Quero ir pra colégio.
-      Não perguntei isso! Eu quero que você repita o que me chamou!
               -      Ôxe!. De fi da peste. – Quando o homem ia partir pra violência, o fiscal interviu: “Relaxa, ele não quer briga, é apenas seu jeito de falar... Relaxe.” E o taxista, calmo, indagou se ele tinha dinheiro.
               -     Ah! Então o fi da peste pensa que não tô armado?, pois eu vou lhe matar é agora, e de uma só vez, e com minha arma!

               Naquele dia Fernando “abotoou o paletó” provando que palavras ferem como navalhas, que podem ser mortais se utilizadas de forma errada, principalmente quando são municiadas pelo medo do desconhecido, do novo, pelo preconceito. Por isso, assim como um peixe, “morreu pela boca”. Até hoje, os poucos que testemunharam o assassinato daquela figura folclórica, relembram o episódio com um certo conformismo pelo fato da morte ter sido tão rápida que não deu tempo dele se dar conta do que tinha acabado de acontecer: Pouco antes de terminar a frase, sem conseguir puxar a carteira, Fernando foi baleado cinco vezes. A morte foi instantânea.

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Comentário:

Essa crônica foi feita a partir de uma série conversas entre amigos, sobretudo após algumas gotas de cerveja. Tratou-se de uma reflexão sobre o poder das palavras, principalmente em se tratando da língua portuguesa que é rica de possibilidades de expressão. Também retrata uma fase de litura fantástica que vislumbrei durante a metade da saudosa adolescência. 


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Upgrade


 
-         Bianca, talvez seja exatamente isso o que você falou. Eu não queria admitir, mas é isso mesmo, meu relacionamento com Eraldo já deu no que tinha que dá.
-         Então termina!
-         Nããoo! Bianca. Se fosse outro eu até faria isso sem pestanejar. Mas ele é tão legal. Ontem mesmo ele me mandou flores só para dizer que pensou em mim. Você entende? Eu nunca achei um homem como ele: carinhoso, gentil, paciente. Vinicius é tudo que uma mulher pode querer, entende? Além do mais, são quase três anos... Como é que vou terminar assim, sem mais nem menos? Talvez, estejamos em má fase... Talvez não... A atenção dele não diminuiu nem um pouco, sabe? Ele continua o mesmo desde o primeiro beijo, com o mesmo brilho nos olhos. Talvez não haja problema nenhum, seja frescura minha, coisa de mulher, stresse talvez.
-         Então não sei Flávia.
-         Mas me diga minha amiga. O que faço? Se há uma coisa certa nisso tudo, é que eu estando satisfeita ou não, não posso continuar me sentido assim: como se algo estivesse faltando, isso o faria infeliz... E ele não merece isso.
-         Olha, eu tenho uma grande amiga que é psicóloga.
-         Que é isso Bianca! Você está achando que estou doida?
-         Não! Você não entendeu. Ela não é uma psicóloga comum, na realidade ela é conselheira familiar. Ela é especialista em relacionamentos que estão em crises.
-         Mas meu relacionamento não está em crise Bianca!
-         Certo. Não está. Mas se você continuar com esses pensamentos logo, logo vai ficar. No mínimo ela vai lhe aconselhar para que você não chegue nesse ponto, vai até dar um upgrade... É apenas um conselho, você segue se quiser.
                    
Não muito longe dali, na casa de Fred, Vinicius desabafava:

-         Fred, eu gosto de Flávia pra caramba!
-         Esse é o seu problema meu amigo. Não devemos nos apegar.
-         Ô meu amigo, eu te chamei foi para desabafar, não para ouvir suas teorias.
-         Tá, tudo bem.
-         O caso é que por mais que eu mande flores, mensagem fonada e o diabo, a mulher não se acende... É como se ela agradecesse, e continuasse comigo por convenção ou piedade, entende? É como se ela achasse que como não irá encontrar outro tão carinhoso como eu, não quisesse me perder, mesmo não havendo um certo “fogo”. Que faço?
-         Sendo eu arranjava outra.
-         Não fale isso nem de brincadeira Fred, eu gosto demais daquela mulher!
-         E quem falou em deixá-la? Eu disse para você arranjar outra. Existem as amantes sabia?
-         Jamais!
-         Então...
-         O que?
-         Se eu fosse você iria, para um psicólogo.
-         Será que me ajudaria?
-         Pior do que está não fica.
-         Algum em especial?
-         Rapaz... Lembra que um dia desses lhes falei que parecia que meus pais iriam se separar?
-         Lembro.
-         Só que não se separaram porque procuraram uma psicóloga especialista em dar upgrade em relacionamentos, lembra?
-         Será que serve para mim?
-         Rapaz... Se ela conseguiu fazer que com que os velhos se apaixonassem novamente, o seu caso não será tão complicado.
-         E funcionou?
-         Você acha que estamos sozinhos aqui por quê? Os velhos foram pro Motel meu amigo, e tem sido assim desde que começaram a se consultar com essa psicóloga.
-         É... Pode dar certo. Vou dar uma passadinha por lá amanhã e vê no que é que dá.
                          Naquela manhã de segunda feira, Vinicius foi o primeiro da fila. A psicóloga ainda não tinha chegado, mas a secretária garantiu que não havia nenhuma consulta marcada e que ele seria prontamente atendido. A espera foi longa, só deitou no divã uma hora e meia depois.

Elenilde, a psicóloga, não enrolou, foi direto ao assunto:

- Qual o seu problema?
- Aí é que está doutora, não sei se realmente tenho um problema.
- Qual motivo lhe trouxe?
- Minha namorada.
- O que tem sua namorada?
- Por mais que mande flores, mensagem fonada e o diabo, a mulher não se acende... É como se ela agradecesse, e continuasse comigo por convenção ou piedade, entende? É como se ela achasse que como não irá encontrar outro tão carinhoso como eu, não quisesse me perder, mesmo não havendo um certo “fogo”. Que é que eu faço?
- Seu problema é o mesmo da maioria dos meus pacientes.
- Sério?
- Muito sério. Se você não tomar providências imediatas, irá perdê-la.
- Qual é o meu problema Doutora? O que devo fazer?
- Você como a maioria dos casais caiu na rotina.
- Só isso?
- Pois é “só isso” que vai fazê-lo perder a namorada.
- O que devo fazer?
- Fale-me sobre ela.
- Ela é linda, tem um metro e setenta, uma linda mulata...
- Não é isso que eu quero saber. Fale-me da personalidade.
- Ela exige pontualidade em tudo; não gosta de Rock in Roll; odeia literatura brasileira; detesta academia e adeptos.  É religiosa, mas nem tanto; odeia ignorância; detesta quando as coisas não ficam bem claras; odeia “segredinhos”; odeia “metáforas”; detesta quem só desabafa por telefone. Para ela o homem ideal se veste de forma social e detesta homem infiel.
- E você só faz o que ela gosta, não é?
- Isso mesmo.
- Só porque ela gosta, ou você realmente é assim?
- É o meu jeito mesmo.
- Pois bem, se você quiser sair da rotina e deixá-la doidinha por você novamente, deverá fazer exatamente aquilo que eu disser.
- Pode mandar doutora, eu garanto que farei.
- A solução é simples: Faça tudo isso que você disse que ela odeia. Tudo mesmo. Não deixe nada de fora.
- A senhora está falando serio?
- Tão certa quanto o meu nome. Falando nisso, como você chegou aqui?
- Um amigo meu, o Fred. Os pais deles que não se olhavam há tempos, depois de vir aqui não passam um dia sem ir a um motel.
- Os fatos falam por si, concorda?
- Se a doutora garante...
- Se não der certo não me chamo Elenilde!

Vinicius saiu super empolgado, tanto, que tratou de ligar imediatamente para a namorada e marcar algum programa à tarde, mas não foi possível por que ela disse que tinha uma consulta marcada por volta das cinco horas.

No consultório Flávia esperou pouco, pois sua consulta já tinha sido marcada. Quando ela entrou na sala, a Doutora Elenilde já estava a postos.

- Pode sentar menina. O divã é todo seu.
- Meu nome é Flávia Tenório.
- O meu é Elenilde, muito prazer. – a psicóloga sorriu com os olhos. – Que posso fazer por você Flávia?
- Sinceramente?
- De preferência.
- Sinceramente não sei. Nem sei o que vim fazer aqui.
- Normal. Todos acham que não precisam de um psicólogo.
- Deve ser isso.
- O que te aflige?
- Meu namorado é bom demais!
- E isso é problema?
- Bom demais mesmo, perfeito! Ontem mesmo ele me mandou flores só para dizer que pensou em mim durante o dia...
- E você não gostou?
- Adorei! Que mais eu poderia querer?
- E qual é o problema?
- Eu nunca achei um homem como ele: carinhoso, gentil, paciente. Vinicius é tudo que uma mulher pode querer, entende?... A atenção dele não diminuiu nem um pouco, ele continua o mesmo desde o primeiro beijo, com o mesmo brilho no olho... O que me mata, que me faz sentir mal pra caramba é que me sinto como se algo estivesse faltando, e isso o faria infeliz... E ele não merece isso!
- O problema é simples, ele continua o mesmo e você também. Vou lhe dar o mesmo conselho que dei para um cliente hoje pela manhã: Saia da rotina!
- Como?
- Dê um perfil psicológico do seu namorado.
- Bem... Detesta quem rói a unha; adora música clássica; odeia Química; não gosta de quem ri alto. É muito religioso, odeia ateu; detesta andar a pé, exige ser bem tratado; detesta quem anda largado; odeia soberba; detesta preguiça em qualquer aspecto e principalmente, mulheres que usam cabelo curto, tipo corte masculino, de máquina dois ou três.
- Você realmente quer salvar o seu relacionamento?
- Muito! Sei que uma pessoa como ele nunca mais encontrarei. O que devo fazer?
- Faça tudo aquilo que ele detesta.
- Mas isso não fará com que eu o perca?
- Confie em mim. Sei o que estou dizendo.
- Isso realmente da certo?
- Até hoje deu.

Flávia adorou a consulta, a psicóloga era muito boa, parecia que sabia o que estava dizendo. E ela decidiu pagar para ver. A ansiedade era muito grande, por isso ligou para Vinicius marcando um jantarzinho a dois na casa dela, já que seus pais tinham viajado. Claro, ele topou na hora. O jantar seria a oportunidade de começar o tratamento. O início da terapia tinha hora marcada: às vinte horas daquela noite.

A primeira coisa a fazer era deixar o cabelo bem curto: máquina dois. Vinicius ficaria de queixo caído quando a visse daquele jeito. O namorado também tomou algumas providências; naquela mesma tarde matriculou-se numa academia. Ele iria para o tal jantar como um típico marombeiro. Imaginem o choque de ambos!

Às oito e meia, Flávia já estava nervosa. Qual o porquê do atraso? Vinicius nunca atrasou, e meia hora? Ele sabia que ela odiava atrasos! E por que o celular dele estava desligado? Aquilo a consumia. Mas não devia ser nada, certamente ele teria uma boa explicação.

O atraso por um lado foi bom, deu para ela dar uma conferida na visão “largadona” que preparou para o seu amado. Também deu para recolher todas as imagens e livros religiosos. Ela sabia que ele odiaria isso... Cinqüenta minutos de atraso? Cadê aquele...  A campanhia tocou.

Flávia não acreditou no que viu do olho mágico: Vinicius estava todo suado, em roupa de lycra, como se estivesse vindo de uma...

- De onde você veio?
- Da academia. Desculpe, é que sabe como é, fiquei malhando e acabei me atrasando.
- Você sabe que eu odeio isso.
De repente Vinicius ficou sério. Flávia percebeu que ele notou o corte, não satisfeita provocou:
- Gostou?
- Ta horrível!
- Obrigada!

O choque foi muito grande, e o inevitável aconteceu; eles que nunca discutiram por nada acaram discutindo. Flávia vez por outra dava risos escandalosos irritando Vinicius profundamente.

Quando chegou a conclusão de que já tinha ido longe demais, Flávia deu um abraço no namorado e o arrastou para dentro do seu AP.

- Ta... Tudo bem meu amor. Eu não vou implicar mais com sua academia e você não vai brigar pelo meu cabelo, ok?

Vinicius iria falar alguma coisa, mas ela o imobilizou com um beijo.

- Posso por uma música?
- Claro meu amor.

O namorado pôs um disco de Rock in Roll, do seu amigo Fred. Era ensurdecedor. Mas fazer o que? Tudo em nome do amor. Quando se virou para ver a reação da namorada, a viu séria e roendo a unha. Aquilo o irritou profundamente. Só não começou uma nova briga porque o celular tocou.

- Alô. Sim... Isso... – Ao olhar para Flávia viu que a curiosidade a consumia, por isso decidiu instigá-la, não diria que quem estava ao telefone era Fred querendo saber se tudo estava dando certo, seria a cartada final daquela terapia. - Olha... Não posso falar com você agora... Depois te ligo... Beijos.
- Quem era?
- Ninguém... Coisa minha.
- Como é? Você pensa que eu sou otária é?
- Olha Flávia, você está muito estranha hoje, deve estar naqueles dias... Por isso eu vou relevar, e o melhor que eu faço é ir embora. Tchau.

Assim, ele se foi. Sem dar nenhum beijo.

Pasma, Flávia começou a chorar e só parou às quatro da manhã, parou quando percebeu que Vinicius era o homem da sua vida e sem ele não poderia viver. Em casa, o namorado também chorava e chegava a mesma conclusão. Por isso, os dois decidiram ligar. O problema é que escolheram o mesmo instante. E o telefone de ambos deu sinal de ocupado.

- Ele deve estar falando com outra. Isso não vai ficar assim, vou pra lá agora!
- Ela deve estar falando com a amiga. Eu é que não vou ficar por aqui, vou conversar com Fred. Preciso desabafar.

Flávio desceu em passos largos. Na porta do prédio chamou um táxi. E graças a uma coincidência que só vimos nos filmes hollywoodianos, sabe quem estava lá, no táxi? Ela mesma, Flávia. Quando a reconheceu Vinicius se derreteu em lágrimas.

Os dois se abraçaram e se beijaram. O taxista interrompeu: como é? Vamos andar ou vão ficar por aqui? Isso aqui não é motel não! Eles não ouviram, continuaram a trocar carinhos e juras de amor.

Depois de semanas aplicando a terapia, tudo saiu conforme o esperado.

As mudanças foram tão radicais, que ele e ela não tinham mais nada da personalidade de quando se conheceram, embora tivessem os mesmos corpos, se transformaram em pessoas totalmente diferentes. Foi isso que fez o amor recôndito voltar, flamejante, verdadeiro e infinito.



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Comentário:

Esse conto foi escrito no dia 27/06/2002 às 18h26min. É engraçado revisitar textos que escrevemos há alguns anos, percebemos alguns vícios, preferência por algumas palavras, pontuações. Muito interessante e instrutivo. Esta estória foi concebida a partir da observação do comportamento de alguns casais de amigos, como disse o amigo Marcos Andrade: A vida imita a arte... Essa premissa é verdadeira, sobretudo em se tratando de amor.rsrsrsrsrsrs