Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

domingo, 15 de março de 2020

NAS "BRECHAS DA LEI" - PARTE 1





Em uma certa manhã de sábado, estávamos eu e minha esposa no centro comercial da cidade de Aracaju. Ela, na altura do comércio da rodoviária velha, um daqueles armarinhos, fazendo compras. Eu, com minha filha, no interior da loja "Huteba".

Após algum tempo, uma vendedora, querendo agradar a criança que estava em sua frente, analisando-a de cima a baixo, ofereceu um pirulito sabor maçã verde.

Ocorre que os pais de Mariana não são a favor da degustação indiscriminada de doces por crianças. Por isso, agradeci a gentileza da vendedora, e de imediato, guardei o pirulito no bolso. Houve protesto! Então prometi a Mariana que, chegando no carro, entregaria o doce (pirulito sabor maçã verde).

Uma hora ou duas depois, não sei dizer. Finalmente, minha esposa chegou com as compras e nos dirigimos até o estacionamento.

Enquanto manobrava para sair, não demorou muito para que Mariana, devidamente acomodada em sua cadeirinha, cobrasse:

- Papai, cadê meu pirulito?
- Que pirulito? (Tentei desconversar)
- O pirulito que a moça deu. (Foi cirúrgica.)
- Não tem pirulito nenhum não, Mariana! (Tentei encerrar a questão, mas foi inútil.)
- Papai, cadê meu pirulito? Papai, o Senhor prometeu... Eu quero meu pirulito!

Crianças não desistem, sobretudo Mariana.

- Papai, cadê meu pirulito? Papai, o Senhor prometeu... Eu quero meu pirulito!

A insistência frustrada foi um estopim para que Mariana abrisse um berreiro:

- Eu quero meu pirulito! Eu quero pirulito! Meu pirulitoooo!

E repetiu, repetiu, repetiu.
Impaciente, sentenciei:

- Mariana, não quero ouvir a palavra pirulito! Está proibida de falar a palavra pirulito! Entendeu?

Compreendendo que eu não queria ouvir a palavra pirulito, depois de um breve silêncio, Mariana questionou:

- Papai, posso fazer uma pergunta?
- Mariana! Não quero ouvir a palavra pirulito. Entendeu Mariana?
- Entendi papai.

Novo silêncio. Curto. Foi logo rompido.

- Pa-pai.
- Fale amor-do-papai-e-da-mamãe.
- Posso fazer uma pergunta?
- Pode.
- Papai... Cadê "o verde"? Papai, o Senhor pode me dar "o verde"?



Por Anderson Teinassis