Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

sábado, 30 de abril de 2011

Infância




Ontem,
Na minha infância,
Todo sorriso era verdadeiro.
Eu não sabia
Que para cada brinquedo
Ganhado no dia das crianças,
Escorria uma gota de suor dos meus pais.


O mundo era
Repleto de novidades.
Hoje fico amargurado
Ao ver a semente
Da falsidade ser plantada
Na sociedade.


Entre ontem e hoje
Aprendi muito.
O sol é o mesmo,
A vida continua a mesma.
O que mudou foram as pessoas...
Os Sorrisos.




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Comentário:

Essa poesia foi escrita em 2001. Foi feita a partir da reflexão daquela máxima de que para se conhecer a real natureza do homem, deves-se dar poder a ele. Quantas vezes nos deparamos com pessoas que mudam da água pro vinho após provarem o etéreo gosto do poder?  


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pessoas




Há pessoas que sabem amar,
E outras, muitas,
Que não sabem ser amadas.

E não deixam sua alma
Ser banhada na cascata
Do amor, com medo de secá-la.
(mas o amor não seca).

E não põem a ponta dos pés
Em sua água cristalina, límpida...
E se põem, sentem um calafrio
E não deixam a temperatura homogeneizar...
Se auto-proclamam românticas,
Mas têm mais gelo que os dois pólos.

Não acreditam no amor perfeito
Porque são imperfeitas na relação,
Tentam em cada beijo
Impor uma verdade, um conceito,
E chama de diálogo esta imposição.

Há muitas pessoas que não sabem ser amadas,
E outras, que têm a esperança
de que um dia elas prendam. 




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Comentário:

Essa poesia foi escrita em 15/01/2001 à base de lágrimas. Tinha sofrido uma decepção amorosa e na ocasião, para desabafar em versos ela nasceu. Também veio da constatação de que algumas pessoas ao meu redor, bem quistas tenham o mesmo tipo de comportamento: Não valorizar que estar perto, ou não dá importância ao sentimento do outro. Como dizia Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.”

sábado, 23 de abril de 2011

Lá fora



Vou lá fora ver se tem o que ver...
Não demora e levo um soco no estômago
Ao saber que Davi morreu em "troca de tiros" com Golias
E que meu Estado não é aquele da propaganda governamental.

Vou lá fora ver se tem o que ver,
E ouço uma história bonitinha de criança:
Dona Splice gosta de distribuir dinheiro sem querer nada em troca.

Insisto! Vou lá fora ver se tem o que ver,
E vejo a imprensa reunida para apresentação de troféu de presos
E me pergunto o que houve com os princípios constitucionais
De direito à imagem e presunção de inocência?

Inspiro fundo e faço mais uma tentativa:
Vou lá fora ver se tem o que ver,
E me deparo com ruas alagadas, transporte público caótico...
Mas como? Na propaganda não está tudo lindo?

Rogo aos céus e ao ver profissionais sem carga horária e discriminados
Com vencimentos correspondentes a metade dos "co-irmãos",
Vejo funcionários sofrendo assédio moral de gestores e gritando BASTA!
E então percebo que os heróis existem.

Vou lá fora ver se tem o que ver,
E vejo uma senhora dividindo o pão,
Um Senhor dando cobertor para o mendigo ter uma noite sem frio.
Outro dando esmola acompanhada de um olhar e um sorriso fraterno.

Vou lá fora ver se tem o que ver,
E vejo fiéis orando, em sintonia com o Espírito Santo,
Tornando a vida iluminada, tolerável, e dou graças a Deus:

Os bons são maioria.




sexta-feira, 22 de abril de 2011

Conversa com Deus - 1992



Era tarde,
na verdade quase noite.
Foi quando vi,
admirei...
quando lhe conheci,
me sentei... Nada na mente,
somente tristezas,
levantei a cabeça
olhei o céu,
observei.

Foi quando acreditei,
me deslumbrei
com o carisma doce
que envolveu meu corpo,
era como a doçura do mel,
a pureza da natureza.

Naquele momento
a tristeza que me sufoca some,
tudo me encanta,
engana o sentido da razão.

Que ilusão,
é tudo besteira,
- penso rapidamente.
Uma luz...

Surge a clarear
e esta humildemente se pôs a falar:

- Tudo que estás
a enxergar
é fruto da imensidão do amor,
da saudade do ausente...

Sou aquele que está ao teu lado.
Neste momento me calo
e este me diz:

- Sou o teu senhor,
aquele que não gosta da dor,
do desamor,
da falsidade,
da traição,
da desonestidade,
da desunião.

Sempre estou a observar,
vejo quando erras!
Quando tropeças nos teus atos.
Gosto do amor
que tens pela vida.

- Senhor estou preocupado,
não tenho nada,
quero ser amado,
não enganado!

Não quero estar perdido,
sem rumo,
quero me encontrar,
não sei o que devo mostrar a ti,
nada sei fazer,
muito tenho a dizer,
quero terminar a minha missão.

Dizer que te amo,
que tenho fé,
não serão apenas
palavras ditas,
sei que acreditas
que com isto não brinco.

Sempre pedindo
o que ninguém tem,
tento melhorar,
quero me encontrar
não sei como,
talvez nos sentimentos
sinceros do meu coração.

Senhor,
o teu servo
não tem religião,
não me considero um ateu,
em ti creio!

Minha fé está contida
nas tuas proezas infinitas.
na tua imensa sabedoria...

Sou um ninguém,
sou o chão a ser pisado,
brinquedo a ser quebrado,
a água a ser poluída,
o tecido a ser rasgado,
a amiga a ser traída,
o bebê a ser abortado.

De ti só quero o perdão,
por ter nascido,
crescido,
ter aprendido demais,
de ter vivido até este momento escondido...
preso.

Conheço o gosto da morte,
o prazer da dor,
talvez não se importe
pois sou apenas um sofredor.

Entrei numa estrada sem rumo,
caminho que não há fim...
Agora estou indo
e a todos somente peço:

"QUE SE LEMBREM UM POUCO DE MIM”.

- Sou o teu criador,
sei que tens muita dor.
Agora esqueça de tudo,
pois tens fé,
humildade,
honestidade,
amor.

Por isso não tenhas raiva da vida,
encontraste a luz
um pouco tarde,
agora provaste
que és um bom servidor,
agora deixe a carne
e venha ao teu senhor,
filho.



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Comentário:

1992 foi o ano em que essa poesia foi escrita. Lembro-me como se fosse hoje, apesar de na época contabilizar apenas 13 primaveras de existência. Eu estava no interior do carro do meu pai, numa das inúmeras noites de insônia que tenho desde sempre. Em casa todos dormiam. Por volta das 2h00min lembro-me que sem nenhuma razão aparente desliguei o som do carro em que até aquele momento ouvia músicas orquestradas, olhei para o céu e comecei a imaginar uma peça de teatro que tratasse sobre o drama dos viciados em substâncias psicotrópicas. Foi o último registro que fiz. Em seguida num Frenesi que nunca experimentei, até hoje... O poema "Conversa com Deus" saiu absolutamente pronto, sem a necessidade de quaisquer correções. Confesso que ainda me é estranho entender como um jovem Anderson de 13 anos escreveu isso. Se fosse psicografado ou estado ímpar de iluminação, não sei dizer. Só sei que até hoje sinto-me honrado e privilegiado em escrito estes versos.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Fantasma do SE



Não faço planos.
Pra quê? Se mesmo sem querer,
Serão frustrados.
Estudar pra quê?
Se, sem QI,
Serei mais um sem emprego?
Pra que lhe ouvir,
Se algum outro lhe ouvirá?
Se tenho meus próprios problemas
Pra dividir com o espelho.
Pra que cantar
"Parabéns a você"
Se és um cego
Feliz por não vê?
Quanto a mim?
Não, não sou sinônimo de perfeição,
Tampouco de moral...
Sigo fazendo da realidade minha ilusão,
Guiando-me pelo "segredo percebido"
Na dualidade de Platão.
Eu sei o que eu fiz,
Mas não sei o que vou fazer...
Fiz o que fiz,
Sem o Fantasma do Se,
E descobri que só assim
Vale a pena viver.  



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Comentário:

Quantas vezes em nosa vida não ouvimos uma pessoa falar: Ah! Se eu tivesse feito isso ou aquilo? Essa poesia surgiu à partir dessa reflexão. Contudo foi um trabalho encomendado. Um grupo de Teatro Carioca tinha me encomendado uma peça de teatro infanto-juvenil. A peça trataria desse tema. Assim que terminei veio-me a idéia de concluir a peça com uma poesia que seria declamada de acordo com o encerramento da jornada das personagens. Todos os presentes se emocionaram bastante. É um dos momentos da minha vida que aprecio recordar.

domingo, 17 de abril de 2011

Barata




Olhe a barata
Dentro do cano d’água, agora.
Olhe a barata
Percorrendo a veia aorta.
Olhe a barata
Testemunhando o assassinato de Lorca.
Olhe a barata
Sob a porta
Vendo a criança que provou hóstia,
Morrer de cólera.
Olhe a barata
Vendo a sociedade hipócrita,
Pela bomba atômica ser morta.
Olhe a barata
Vendo a nascer à incógnita.




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Comentário:


Essa foi a poesia mais inusitada que tive o privilégio de criar. Digo inusitada porque a idéia surgiu em plena Rua Itabaiana, quando ao passar por um dos inúmeros buracos que a DESO distribui pela cidade vi dois meninos de rua mergulhados na poça d´água formada. Confesso que fiquei estagnado com a cena e até lamentei não ter uma câmera fotográfica naquela ocasião. Num determinado instante vi um dos meninos falarem em tom de espanto peculiar da idade: “Olha... A barata está dentro do cano d´água agora.”... Não sei por que, fiquei com aquela frase na cabeça, martelando, crescendo... E ao entrar no Táxi lotação pensei: Será que eu consigo transformar isso num poema? Cheguei em casa e comecei a pensar... Dois depois o poema “Barata”. Em 1999, a Universidade Federal de Sergipe, congratulou o escritor Anderson Sant’ Anna com o 3º lugar na categoria poesia da edição do “CADERNO DO ESTUDANTE” daquele ano. Pois é... Os poemas estão ao nosso redor.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Boletim Da Madrugada



Embora estivesse há pouco tempo no ramo, Érson Bhorassis já era famoso, seu programa era, indiscutivelmente, o mais visto no horário, até quem negava assistia. A idéia era simples: todo santo dia ele visitava o IML para avaliar o saldo do dia, e a partir da zero hora, transmitia ao vivo as diversas ocorrências da madrugada, por isso o nome do programa era “Boletim da Madrugada”.

Uma idéia simples, assim como nasceu: Ele vinha de uma farra com os amigos, daquela que vara a noite, e entre uma cerveja e outra, percorrendo o maior número de bares que puderam visitar, seus olhos ainda conseguiram registrar um número considerável de  desgraças que aconteceram naquela noite. Somente naquele intervalo em que estivera curtindo a vida adoidado com os amigos pôde observar que roubaram um motel e mataram o recepcionista, ocorreu um incêndio, e uma mulher esfaqueou o marido depois de pegá-lo em flagrante com a amante. Tudo isso nos mais afastados pontos da cidade, Aracaju City não parava.

A produção do “BOLETIM DA MADRUGADA” era fixa, foi sua principal exigência quando firmou o contrato. Ele sabia que iria lidar com bandidos e não seria bom mudar suas companhias, sem mais nem menos, pois tinha receio de colecionar desafetos. Entretanto, o efeito foi totalmente o inverso do que ele esperava, o sucesso foi tão grande que conquistou a simpatia de policiais, bandidos, juízes, donas de casa. Ninguém declarava abertamente, mas o Ibope confirmava preferência.

Segunda Feira, vinte e três horas e quarenta minutos. Diante do espelho Érson refletiu: “Quem eu era há um mês... Será que ainda sou o mesmo?” - Ajeitou a gravata, e com um rabo de olho leu o título da primeira página do jornal. BOLETIM DA MADRUGADA; Sucesso TupIniquim será exportado! – O que esperava naquela noite? Ele não sabia, todo dia era assim, não planejava nada. A podridão da sociedade é que o guiava. – Pôs o cinto, se perfumou, e antes de sair leu como sempre fazia, um bilhete colado no espelho da sua cômoda. “Você é um fracassado, me esqueça!” Foram as últimas palavras da sua ex-namorada antes de despachá-lo.

Dez pra meia noite, já era hora de sair. E o fez.

A equipe já o esperava na porta: Luizão, o motorista; Philipe, o cabo man e Mongo, o cinegrafista.


- Ta pronto pra outra seu Érson? – Indagou Philipe, dando um tapinha nas costas. 

- O que será que nos espera em Érson?  - Sorriu Luizão.

O repórter permaneceu calado durante todo o trajeto até o IML, ele nunca falava nada até a hora do programa, era, talvez, uma forma de concentração. Ninguém sabia o porquê, talvez nem ele, só não tinha vontade de falar e não falava. Apesar de trabalharem há pelo menos um mês juntos os companheiros insistiam em puxar conversa para quebrar o gelo, mas o máximo que conseguiam eram gestos mecânicos.

- Chegamos. Estão todos prontos?
- Sim senhor.
- Então vamos.

Assim que abriu a porta do furgão todos do programa levaram um susto. A frente do Instituto Médico Legal estava abarrotada de gente. Todos queriam cumprimentar o famoso Érson Bohrassis.

- Com licença. – Com muita dificuldade conseguiu entrar no prédio. A fama eliminou a burocracia, o diretor já o esperava. – O que o senhor tem pra mim hoje?
-  Nada demais. Só um afogamento. Mas tem um caso quente na Homicídios, prenderam um cara a poucos minutos com treze quilos de maconha num canavial.
- Que horas são Philipe?
- Meia noite e cinco.
- Ótimo. É esse! Vamos liguem a câmera, é o nosso primeiro caso de hoje. – Dizendo isso, todos ficaram frenéticos, técnica, policiais, multidão. Era assim que o programa começava:

-  Boa noite telespectadores e telespectadoras! Aqui é o repórter Érson Bhorassis a caminho do nosso primeiro caso: Um homem foi pego em flagrante com treze quilos da “erva mardita” num canavial. Como sempre, vocês de casa acompanharão tudo na íntegra, sem cortes.

Na delegacia a equipe também era aguardada. Havia público, mas os policiais providenciaram um cordão humano para que a entrada do famoso repórter não fosse conturbada.

- Seja bem vindo Érson.
- O que você tem pra mim delegado?
- Tem aquele indivíduo ali que foi pego com treze quilos da planta e como não poderia deixar de ser, se diz inocente.
- Posso falar com ele?
- Pode, mas antes gostaria de falar com você em particular... – delegado vai para sua sala, tranca-se e chama Érson com um leve balançar da cabeça.
-  O senhor não me interprete mal, seu Érson...
-  Não se preocupe delegado.
-  É que.. Sei que não deveria, mas insistiram e não pude negar.
-  Se eu puder fazer algo farei delegado, não tem problema.
-  Dê-me um autógrafo, é pra minha filha, ela gosta muito do senhor e não dorme sem assisti-lo. Não vou mentir pro senhor, não gostaria que ela assistisse, mas ela gosta como eu. – Érson pegou o papel na mão do delegado, assinou e devolveu. – Desculpe seu Érson, sei que o senhor é muito ocupado, não vou mais empatar seu trabalho. – Abriu a porta e acompanhou o repórter até o preso.
- Ah seu Érson, que bom que o senhor veio. Eu sou inocente seu Érson.
- Certo. Mas lhe pegaram com treze quilos... Como você explica isso?
- Foi uma cocó dotô, eu não fiz nada não... Armaram pra mim.
- Mongo mostre a cara desse homem. – O Cinegrafista deu um close na primeira lágrima que saiu do olho suplicante do marginal. – O que é que você estava fazendo no meio do mato onze horas da noite com aquele bagulho?
- Foi coincidência dotô, eu tinha saído pra dar uma caminhada, sem destino, quando de repente me deu uma dor de barriga braba. Eu não tinha pra onde ir, o cantinho mais sossegado que tinha era o canavial, então fui pra lá dar uma cagada, e quando estava quase terminando os homem apareceram e por coincidência esse pacote estava perto de mim. – os demais presos, os policiais, a equipe técnica do programa, enfim, todos, deram uma gostosa gargalhada. – Eu sou inocente!
- Por que você não conta pra seu Érson que já tem ficha?
- Mas isso não conta doutor.
- Por quê? Que você fez? – Indagou o repórter.
- Eles já me fixaram uma vez porque queimei as roupas da minha sogra.
- Por quê?
- Ela tava enchendo meu saco, eu disse que se ela não parasse iria queimar as roupas dela, ela não acreditou, eu disse: Ói... Eu vou queimar. - Ela disse: “Queime, quero ver.” - Então queimei. Doutor posso ir ao banheiro? – O Delegado e os policiais ficaram sérios, alguns policiais bateram na mão como advertência. – É só pra cagar minha gente. Tenham dó!
- Deixe delegado, não custa.
- E se ele fugir?
- O Senhor algema e o coloca nu no banheiro, o lugar está cercado e nu ele não iria muito longe.
- Boa idéia Seu Érson.
- Miro, leve-o ao banheiro, e nu. – Policial cumpriu a ordem.
- Senhores telespectadores, todos vocês ouviram a história. Que vocês acham? O homem é inocente? Que acredita pode ligar para 0800190190 e quem não acredita ligue 0800191191.

O Policial que levou o marginal voltou nervoso e com a testa sangrando.

- Delegado, o preso fugiu!
- Como foi isso?
- Ele pediu papel higiênico e quando fui entregar ele me acertou com uma portada, pulou a janela e fugiu.
-  Então vamos atrás dele.

Os policiais ficaram afoitos e as viaturas saíram cantando pneu.

-  Posso ir junto delegado? – Perguntou o âncora do “Boletim da Madrugada”
-  Pode, mas tem uma condição.

O delegado chamou o repórter para retornar ao interior da sua sala que era isolada acusticamente, certificou-se de que o mesmo não possuía nenhum gravador, nem celular gravando e cochichou ao pé do ouvido: “Você sabe como é... Nunca se sabe... Às vezes alguém lá de cima liga... E aí pode haver “troca de tiros...”

- Sei como é...
- Então... Se isso acontecer nada poderá ser registrado.
- Não se preocupe... O Senhor pode contar com a minha discrição.
- Ótimo... – Abriu a porta e enquanto saiu olhou para o cinegrafista do programa que já estava a postos e falou de forma teatral:
- Está autorizado. – olhou para os policiais e anunciou: Seu Érson vai conosco... Afinal, a rua é de todos.

O Cinegrafista focalizou o sorriso do delegado ao cumprimentar Érson e correu na direção da garagem da delegacia no qual as viaturas saíram cantando pneu. Em meio a toda aquela adrenalina Érson Bohrassis pediu um close e conversou com seu público fiel:

-  Vamos lá telespectadores, como vocês viram e ouviram, temos autorização para acompanhar essa perseguição e logo após nossos comerciais vocês verão tudo na íntegra, porque esse é o seu, o meu, o nosso BO-LE-TIM DA MADRUGADA!


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Comentário:

Antes mesmo do surgimento do Youtube nós pobres mortais já éramos bombardeados diariamente com com uma série de notíciais policiais: alguém, roubou, matou, enganou, traiu ou se suicidou... Como diz a máxima jornalística de saudoso cronista Rubem Braga: "Se um cachorro morde o homem não é interessante, é banal, mas se o homem morde o cachorro, então é inusitado, e portanto será notícia."... Foi à partir dessa reflexão que há alguns anos atrás escrevi essa crônica.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Teoria do Amor



Se “o amor” fosse crime,
Seria formal, material e analítico.
Seria bipartido ou tripartido?
Seria uni ou pluriofensivo?

Em se tratando de amor, tudo.
O amor seria formal, pois amar e ser amado é próprio do ser humano.
Substancial, pois sempre há lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico imensurável:
“A capacidade de amar pura incondicionalmente”...
Amar e ser amado envolve risco de mágoa e decepção.
E para cada coração petrificado a humanidade ganha um morto-vivo circulando pelas ruas.

Se o amor fosse um delito,
Seria crime, delito e contravenção.
Punido com privação de liberdade, restrição de direitos e multas.
Haveria um corriqueiro “bis in idem”...
Pois na maioria das vezes, amar também é sofrer.

Se o amor fosse um delito,
Uns o definiriam comum, outros especial ou de mão própria.
Que seja! Afinal... Poderia ser praticado por qualquer pessoa...
Mas qualquer pessoa... Uma vez que ama e é amada... Deixa de ser “qualquer pessoa”...
Ambas são criaturas especiais... Transpirando, respirando, bebendo e comendo “amor”
E todo e qualquer ato, único ou múltiplo, seria dolosamente realizado sob esse prisma.

E o resultado seria típico vinculado à conduta:
Olhar, pele, desejo, afinidades, fenitelamina e epinefrina consumariam o delito amor.
Que poderia ser objeto de dois ou vários atos e qualificado pelo resultado.

E o tempo diria se foi instantâneo, permanente ou ambos.
O tempo diria se foi  habitual, uni ou plurissubssistente.
E o tempo seria a punição, o juiz natural e pela dosimetria da pena, a cura.

Razão e emoção debateriam se o amor foi subsidiário, complexo, progressivo ou de passagem.

Se o amor fosse crime...
Seria casual, fortuito ou de “força maior”, nunca seria omisso.
Ninguém ama por negligência.
Ninguém ama por imperícia.
Ninguém ama por imprudência.

O amor está para o coração, assim como o “coração” está pra vida.
O amor é humano, e ao mesmo tempo divino...
É o que nos torna imagem e semelhança de Deus!

Se “o amor” fosse crime...
Quantos de nós estaríamos presos?
Quantos de nós seria réu confesso?
Quantos de nós seríamos reincidentes?

Fatalmente... Se o amor fosse crime todos seríamos criminosos.
Mas o maior crime seria viver sem nunca amar e ser amado!
Porque não seria “viver”... Seria um invisível existir.


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Comentário:
Com a mesma proposta da "Química Poética" que vislumbrava a difusão de conhecimento através de versos, iniciei a produção de obras análogamente voltava ao direito, que é lindo.rsrsrsrs