Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Querida e Estimada Psicopata...




“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que elas se propõe.” (Jean Piaget)



Ensinar é um presente de Deus. Um dom maravilhoso! Quem é professor por vocação sente-se exatamente assim. E somente um profundo amor à profissão justifica o exercício diário com zelo e dedicação, apesar de todas as intempéries culturais, sociais e econômicas inerentes a esta escolha profissional.

Entretanto num reino muito, muito, muito distante, existia uma professorinha com “cara de anjo”, mas que escondia em seu íntimo uma psicopatia peculiar: ela gostava de fazer aluno sofrer, adorava testemunhar o roer de unhas, os bochichos nos corredores da escolinha de que “com aquela professorinha ou estuda ou estuda.” Ela sentia êxtase quando um aluno, ao ver a nota, lançava uma expressão sobrecarregada de profunda decepção consigo mesmo. Foi somente por essa razão que a Senhorita Franko tornou-se professora.

Com a evolução dos tempos, o sistema educacional marciano não era mais o mesmo. Muitas tecnologias disputavam a atenção dos alunos, e o pior! (pelo menos para a Senhorita Franko), em alguns casos até ajudava no rendimento e aprendizagem. Ela odiava os “tempos modernos”. Graças aqueles odiosos aplicativos educacionais, vídeo aulas, áudios-aula, etc., nas últimas três avaliações de sua disciplina, mais de 70% dos alunos estavam com nota acima da média. Aquilo estava tirando o sono da Senhorita Franko. Algo precisava ser feito, pois ela não admitiria que nenhum aluno passasse em sua disciplina, muito menos com notas altas. JAMAIS!

Faltando poucos dias para a prova final, a professora marcou de última hora uma aula das dicas, uma revisão geral, sob o pretexto de querer ajudar no rendimento da turma. Nem Freud descobriria o que se passava no íntimo da Senhorita Franko.

Diz a lenda que naquela histórica “aula de revisão”, a Senhorita Franko dizia com voz melosa:

- Queridos alunos, não dêem ouvidos ao que se fala nos corredores. Minha disciplina não é difícil, basta estudar.

Um aluno perspicaz provocou:

“É, querida professora, não seria difícil se a senhorita não passasse na prova questões tendenciosas, não com o objetivo de avaliar o aluno, mas a senhorita coloca pegadinhas, e fica claro que o objetivo não é avaliar, mas sim ferrar o aluno. É perfeitamente visível.”

- Que absurdo!

A Senhorita Franko aproximou-se do aluno e acariciando os cabelos da criatura, em tom tentando externar uma preocupação maternal, repetiu e completou:

- Que absurdo! Querido, para mim, vocês são meus filhos. E como uma mãe que só quer o bem dos seus filhos, eu só quero o bem de todos vocês. Vocês não imaginam o quanto eu ficaria alegre se todos vocês tirassem dez nesta prova final. Mas não depende só de mim, vocês também precisam fazer a sua parte.

Uma das poucas alunas ingênuas ousou fazer um pedido:

- A senhorita bem que podia facilitar. Porque a Senhorita não dá uma dica.

A senhorita Franko lançou um sorriso que faria o seu tataravô o General Hermenegildo Teódulo Franko se borrar todinho de medo. Era naquele instante que ela queria chegar. Planejara cuidadosamente na noite anterior, enquanto o esposa penetrava na 5ª fase do sono.

- Bem, para ninguém não dizer depois que não sou maleável, que não sou boazinha vai uma dica: Dêem mais importância ao que foi dado hoje. O que expliquei até a data de ontem será exigido apenas em duas questões, mesmo assim, voltem suas atenções mais para o que foi dado hoje... HOJE... Para o resto basta uma pincelada.

Trrrrriiimmmm. Soou o alarme. Tudo estava seguindo conforme planejado.

No dia seguinte todos os alunos sentaram-se felizes da vida. Todos estavam satisfeitos com o curso das dicas que a “tia  Franko”  tinha dado na aula anterior. Inclusive durante a execução da provas 99% dos alunos estavam resolvendo as questões felizes. Porém, um aluno, apenas um aluno fez a prova concentrado e com cara muito aborrecida, e por sinal, foi o último a entregar a prova, e também foi o único que não lançou um abraço e um sorriso à “tia Franko” em agradecimento pelo curso das dicas.

O aluno “gauche” aproximou-se, olhou nos olhos da professorinha Franko e disse a frase que ela nunca mais esqueceu: “EU SEI O QUE A SENHORITA FEZ.” Simples assim. Apenas isso, e foi embora.

Três dias depois, como fora anunciado a “tia Franko” entregou as provas e como esperado, 99% dos alunos estavam angustiados, pois 100% tinham sido reprovados.

A senhorita Franko estava adorando aquele momento. Ela sentia uma satisfação indescritível quando um aluno vinha pedir meio ponto ou um ponto. Ela se deliciava com as lágrimas de desespero de cada aluno, que individualmente pleiteavam uma audiência e imploravam por uma segunda chance.

Por fim, no momento em que quase não se segurava do imenso prazer que sentia em reprovar os alunos, a Senhorita Franko percebeu que na sala apenas se um encontrava um aluno. O único aluno que não estava angustiado. Ela não entendia, pois como planejara em mais um ano obtivera 100% de reprovação.

O aluno se aproximou. Era o mesmo que três dias antes a deixara intrigada ao dizer: “EU SEI O QUE A SENHORITA FEZ.” Ela tentou manter-se calma dizendo para si mesma: Calma, é apenas mais um aluno que vem implorar por nota. E será fácil, ele só precisa de 0,1, (zero vírgula um) talvez eu faça esta exceção e pela primeira vez na vida, dê a chance de alguém passar em minha matéria.
O aluno sentou-se, encarou-a profundamente e disse de uma só vez:
- Querida professora, vou logo dizendo: não vim pedir ponto. Sei que estou reprovado e não vou pedir ponto a senhorita, apesar de estar precisando de 0,1. (zero vírgula um) Mas não vi pedir absolutamente nada. Só vim dizer uma coisa: “EU SEI O QUE A SENHORITA FEZ.” E foi muito feio. A Senhorita disse na aula de revisão geral que nós déssemos maior ênfase às dicas que foram dadas naquele dia, e que os assuntos das aulas anteriores seriam dados apenas em duas questões.

- Mas eu não fiz isso? – a Senhorita Franko improvisou um sorriso.

- Fez. Mas também fez uso de manipulação matemática. Pois a Senhorita colocou dez questões valendo 0,3 (zero vírgula três) cada uma, totalizando 3,0 (três) com as questões da aula da revisão que a senhorita disse repetidas vezes que deveríamos dar prioridade, e, em contrapartida lançou duas questões, cada uma valendo 3,5, (três e meio) ou seja, deu peso 7 (sete) às questões que a senhorita disse que não deveríamos dar muita importância.

- Menino, eu não fiz isso. Sou humilde suficientemente para em caso de erro pedir desculpa.

- Querida e estimada psicopata, não estou aqui para tentar convencer a senhorita, a senhorita sabe muito bem o que fez. Que foi antiético. Uma vergonha para categoria profissional. James Russell,Piaget, Pitágoras, Immanuel Kant, Paulo Freire e Arthur Giannotti devem estar se rebatendo em seus respectivos túmulos.  Só quis deixar claro que EU SEI O QUE A SENHORITA FEZ. Só isso. Passar bem!

Naquele dia, pela primeira vez em 20 anos, a professora Franko Chorou. Também foi a última vez que ela ensinou na escola Marciana... Mas existe outra lenda de que ela anda aplicando sua didática pelas bandas de Júpiter.




Por Anderson Sant' Anna Teinassis

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

3.4





Um dia bateu-me a porta
Um Futuro de velhas novidades
Anunciando, sem demora,
Fragmentos de passado e presente,
Misturados com sonhos, decepções e verdades.

Disse-me que em sua Pandora
Trazia tudo o que um homem pode querer:
Riqueza, amores, fama,
Qualquer coisa que a “cachola” se atrever.

Disse-me ainda que negociava com troca,
Uma toma-lá-dá-cá sem ganhar nem perder.
Bastava dizer o que queria,
Pagar com o que fosse estima,
E então imaginar, desejar...
Que ele, Futuro, garantia, fazia acontecer!

Lisonjeado com a visita a muito esperada,
Agradeci ao Futuro a vinda cheia de graça.

Disse-lhe que aprendi com a vida,
Que com o Futuro não se negocia,
Apenas se “proseia”, sonha...

Que dia após dia
A gente sustenta o Futuro
Com pedaços de presentes e passados.

Aprendi que com o Futuro não se brinca,
Não se hesita, não se perde de vista...

Aprendi que devemos tratar o Futuro bem,
Ver o que ele precisa, e no tempo certo atendê-lo.
Que devemos tê-lo sempre por perto,
Ao nosso alcance, firme, com os pés no chão.

Aprendi que não existe um único Futuro...
Que todos são bons.
Que até o mau Futuro, também é bom.
Pois ele sempre provém de Deus,
E Deus sempre faz o bem.

O Futuro persistiu:

Amigo, hoje é o seu aniversário,
Não é todo dia que se atinge 3.4,
Aceite a minha oferta!

Pense no que quiser,
Qualquer coisa que homem possa desejar,
Qualquer coisa que o dinheiro possa comprar,
Qualquer coisa que Reis e Rainhas pediriam aos Deuses,
Qualquer coisa que exércitos morreriam para conquistar.
Basta verbalizar, apontar, qualquer bem...
Qualquer coisa que tenha valor, que a troca vai se realizar.

Sorri,
Dei um forte abraço no Futuro,
E falei: 3.4 o Senhor disse?
É isso mesmo. Com muita alegria!
Mas lamento, não tenho nada que possa lhe interessar.

Não sou rico.
Não tenho influência, nem poder.

Só tenho amigos, queridos amigos.
Pessoas que torcem por mim,
Estão e sempre estarão ao meu lado sempre que precisar.

Só tenho um amor-pra-toda-vida
Que Deus me deu no momento certo para eu cuidar.

Só tenho a minha família,
E como tantas outras que existem no mundo,
Lapidaram as minhas qualidades e meus defeitos
Tornando-me a pessoa que sou hoje.

Só tenho a minha fé inabalável em Deus,
“Uma fé capaz de encarar a razão,
Face a face, em todas as épocas da humanidade...”
Uma fé que me dá esperança e me renova a cada dia,
E me faz seguir em frente de cabeça erguida.

E eu não posso fazer negócio contigo.
Futuro, tudo o que tenho foi presente de Deus:
Amigos, família, fé e amor-pra-toda-vida.
E isto não se dá, não se vende, nem se troca...
Pois não tem preço.

Do Senhor, querido Futuro só quero uma coisa:
Sua sincera amizade,
Para um dia, quando o Tempo chegar...
Eu, o Senhor, o Passado e o Presente
Possamos dar um gostoso abraço!

Naquele dia o Futuro não fez negócio...
Naquele dia o Futuro chorou, sorriu, esbravejou e calou.
Naquele dia o Futuro puxou o banco,
E Sentou-se ao meu lado só pra ver nosso amigo Tempo
Que acabava de passar.

Mais isto é outra história...


By Anderson S. Teinassis