Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cuiabana



Seu nome era belo, seu sorriso era encantador, seu olhar também… ela, por si era linda… possuía a beleza da beleza do que foi e é bonito. Sua beleza não se restringia pelo fato de ter sido criada com a mesma inspiração que Deus teve no dia em que criou a Chapada dos Guimarães. Não, não era só isso. Sua beleza era tridimensional: Muito inteligente e independente tudo que um homem sensato sempre sonhou encontrar numa mulher… Ta bom, já encheu o saco essa exaltação, não foi? Deu pra imaginar? Bem, então vamos parar por aqui, minha descrição se resumirá nisso.
O que vale a pena saber, é que apesar de tudo, ela era muito triste, frustrada por não desfrutar a natureza, pois ainda criança seus pais a mandaram para estudar na floresta dos macacos de paletó e gravata, na terra das ocas de concreto. Na cidade das grandes massas solitárias. Até os vinte anos, ela sentiu falta desse contato com a natureza, mas não sabia disso. Mas seu corpo, principalmente seus pulmões, sentiam falta.
Um dia… a musa recebeu um chamado da sua avó que se despedia da vida. Ela a viu morrer. Com um olhar opaco, com muito esforço disse ao pé do seu ouvido: - Não morra sem visitar uma praia, sem sentir clemência e a prova de amor de Deus, que através das ondas do mar, caricia os pés dos seus filhos ricos ou pobres. Com essas palavras sua avó se foi. Por causa dessas palavras, Andréia Bella (esse era seu nome), aprontou suas malas rumo ao Nordeste.
Quando chegou ao Nordeste, ainda no aeroporto, ela pediu para o taxista levá-la logo para a praia, o sol estava lindo, imponente. Mas por azar, só foi por os pés fora do carro, e sentir a brisa do mar, que começou a chover. O motorista percebeu a tristeza no olhar de Andréia e tentou confortá-la: - Moça, aqui é assim mesmo, uma hora chove, outra faz sol… o tempo tá doido. Andréia sorriu. É assim mesmo moça, a senhora não quer que a leve para o hotel? Quero sim, respondeu a garota, enxugando as lágrimas.
No dia seguinte ela acordou com os raios solares esquentando sua face. Prontamente se levantou, abriu a janela viu as ondas do mar ao longe, avistou as nuvens… o céu não estava nublado, tudo estava favorável. Foi para banheiro, e vestiu o maiô. Que só fazia com que minha descrição inicial fosse simplória e ridícula… se existia a beleza fundamental, estava incrustada em todos os seus poros. Veja bem, nela tudo era harmônico. Corpo e espírito. Então, pronta, desceu para o térreo. O porteiro se comoveu: - Vai a praia?
Vou - respondeu sem prestar atenção a quem tinha falado com ela. Mas, para sua tristeza, foi só por os pés na areia, que caiu um temporal, o tempo ficou nebuloso, sinistro. Ela, inundada de tristeza.
Isso se repetiu durante uma semana, ela saia e chovia. Um dia chegou a ligar para o serviço meteorológico para saber se havia previsão de chuva, mas por mais que não tivesse, era só a bela Andréia, por seus pés na praia, que chovia.
Um dia ela chorou em meio às gotas d’água… E chorou… Olhou para o céu e perguntou: - Por que ainda não pude desfrutar da praia, não sou digna, minha avó disse-me para ver o mar… e só vejo a chuva… que pecado cometi meu Deus? Naquele instante, um velhinho bonachão segurando um guarda chuva, sentou ao seu lado e começou a falar: Não seja tola bela Andréia, a chuva que vês agora não é nenhum castigo, pelo contrário, é motivo de júbilo. A chuva sempre apareceu quando vinha a praia, por que Deus ficou comovido por ver em você a última pessoa humana, que se importava com o que ele fez com tanto carinho para o homem. Ele se comoveu ao ver a beleza da vida no seu olhar, a inocência, a fé… a sua imagem e semelhança que há tempos julgava extinta… então, emocionado, Deus chorou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung