Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Funeral II



Seis meses depois, ele pensou de superar a tragédia da fatalidade que o fez perder a perna, mas não foi o que aconteceu. Nas noites que se seguiram teve pesadelos, sonhou, praticamente todos os dias, com sua querida e amada perna andando sozinha... Num dos sonhos ate havia disputado-a com o Saci pererê. Esses pesadelos trouxeram-lhe uma nova paranóia: "E se perdesse a outra? Como seria?"
Extremamente receoso, enclausurou-se.
Passou a evitar ao máximo sair de casa. Só saía quando não tinha jeito.
O medo chegou a tal ponto, que as economias que tinha feito inicialmente para comprar a melhor perna mecânica que o dinheiro pudesse comprar e suprir a ausência daquela que se foi... Achou de pegar suas economias e mandou fazer um colete a prova de balas para sua outra perna. Gostou tanto da idéia que para não fugir ao costume de se auto-criticar e auto-punir começou a se perguntar em tom de reprovação porque já não tiveram tal pensamento há mais tempo.
Contudo, o destino tinha outros planos, e por ironia, todo zelo com a perna sobrevivente foi em vão.
Num certo dia enquanto assistia TV, um automóvel adentrou sua casa e o imprensou na parede, e sua outra perna foi estraçalhada com o impacto.
Apesar de ter sido atendido logo, não teve jeito, novamente foi necessário amputar. Porém dessa vez, nosso herói não quis saber de funeral! A idéia de que os vermes comeriam sua perna não era agradável. Também não quis saber de cremar, como um amigo sugerira.
 Saindo do hospital, foi direto para banca de revista e comprou um livro sobre a culinária Italiana. Depois de ter lido e relido, decidiu fazer uma lasanha. Não uma comum, essa teria um molho especial, muita pimenta, muito estrato, e uma carne especialíssima: A carne da sua outra perna, moída. Dessa vez, ele mesmo faria o banquete.
Os vermes que procurassem outra coisa pra comer.



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Comentário:

Essa crônica foi uma influência direta das leituras da minha adolescência, sobretudo ao humor negro e algumas vezes fantasioso de Rubem Fonseca. Também foi um desafio criativo em escrever a continuação de uma história que já tinha escrito, no caso "FUNERAL". Um exercício que deu base para a criação do projeto de novelas on-line.

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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung