Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Fim de Semana



Sábado - 05h00min

Todos os moradores já estavam acordados. Arrumaram as farofas, as cachaças e as camisinhas. O fim de semana prometia. No ônibus o mesmo de sempre: muita batucada pra viagem parecer curta.

8h15min - Hora de chegada.

A famosa Praia do Saco já estava cheia. Como se não bastasse ser final de semana, era temporada de férias. Seu Menêz, o mais animado da excursão (como uma chaminé da Petrobrás, completava vinte quatro horas de fogo), desceu apertado e tratou logo de tirar “água do joelho. Entretanto, fez na frente de todo mundo, pra quem quisesse ver. Isso incomodou a todos, por isso, o próprio filho tomou a frente e chamou a atenção. Este, em meio há muitos xingamentos atendeu a reivindicação, mas não sem antes passar a mão na bunda da viúva evangélica provocando uma série de novos protestos que chegaram até ele sem nenhum efeito.

Não tenham dúvida, o velho era um mala.

8h35min

Após vinte minutos de chateações Seu Menêz resolveu dar uma caminhada. Ninguém o acompanhou, até o incentivaram ir sozinho. “É bom para refletir na vida e coisa e tal”. Disseram. Ele foi, mas antes roubou três coxinhas de galinha que tinham acabado de assar. Quiseram até bater, mas o filho interveio dizendo que o pai já estava gagá e não sabia o que estava fazendo.

16h07min

Todos arrumaram as trouxas para ir embora. Mais sete minutos e meio depois todos já estavam prontinhos no ônibus, no entanto, na recontagem perceberam que estava faltando um, e justamente quem? Claro. O mala. Seu Menêz.

17h07min

- É melhor a gente desistir Juninho, seu pai do jeito que é dever ter ido pra estrada pegar uma carona, ou o que é mais provável, deve estar escondido em algum lugar mangando da cara da gente.
- O pai! Se o senhor estiver me ouvido, preste atenção: Se não aparecer, VAMOS EMBORA!
- Não é por nada não Juninho, mas acho que mesmo que ele estivesse se escondendo alguém já o teria encontrado.
- Então o que será que aconteceu?
- Tenho cá comigo que ele deve ter ido nadar e se afogado.
- Mas ele sabe nadar.
- E a onda sabe afogar.
- É melhor a gente ir embora logo. A viagem por aqui é muito perigosa, além do mais o povo já está agoniado, e no caminho avisamos a polícia.

17h10min

Recontagem. Continuava faltando só um. Todos foram embora.

18h22min

Num ponto distante, seu Menêz acordou de um sono profundo.  Ao seu redor havia garrafas de cerveja. Olhou o relógio e apavorou-se com o horário.

- "Êta meu Deus! Perdi a hora… O povo deve tá doido atrás de mim."

18h23min

No ônibus, enquanto o filho chorava outros batucavam em homenagem ao suposto defunto.

18h31min

Seu Menêz chegou no local do acampamento.

- "Porcaria! Que bando de gente sem coração é essa? Onde já se viu, deixar um velho numa praia? Nem qu’ eu tivesse dinheiro. E agora? Vou ter que pedir carona.”

19h45min

Cansado de tanto esticar o dedão pedindo carona e ser quase atropelado, Seu Menêz sentou-se na beira da estrada, pensativo.

- "É. Nestes trajes ninguém me dará carona. O jeito é ir caminhando."

22h00min

Toda a família foi comunicada do sumiço do velho e concluíram que ele morreu afogado. Depois de choros e abraços decidiu-se fazer um enterro simbólico no dia seguinte.

22h01min

Seu Menêz iniciou a caminhada.

Domingo - 8h17min

Houve a simulação de enterro, muita gente compareceu. (Aqui pra nós: quem compareceu estava apenas interessado na feijoada feita em homenagem ao "defunto").

8h43min

Um caminhoneiro ofereceu carona para Seu Menêz.

- O que o senhor está fazendo sozinho por essas bandas?
- Fui farofar e me esqueceram.
- Isso não é coisa que se faça com um velhinho.
- Também acho.
- Principalmente um velhinho tão bonitinho como o senhor.
- Aí eu não acho!
- É sério! - alisa as coxas.
- Era só o que me faltava, pegar carona com um boiola na estrada.
- Que é que tem?
- Tem que eu vou descer.
- E se eu não deixar?
- Você não é besta fi de uma égua.

Resultado, Seu Menêz foi desmoralizado, mas saiu vivo para continuar sua caminhada.

12h15min

A “viúva” lembrou do velho.

- Pensar que ontem Menêz comeu sua última farofa…

Todos choram.

16h00min

Seu Menêz catou comida no lixo de uma restaurante de beira de estrada.

21h18min

Ascendeu mais uma vela para o morto.

23h00min

Seu Menêz deitou-se na carroceria de um caminhão e dormiu.

Segunda - 4h56min

O caminhoneiro jogou um balde d'água no velhinho. Seu Menêz levantou atordoado. Um outro caminhoneiro comovido com a cena chamou a atenção do colega e ofereceu carona.

7h35min.

O velho foi deixado na porta de casa. Todos ainda dormiam. Quer dizer, dormiam até começar a reclamação:

- Cadê esses desgraçados que me deixaram? Maria condenada me prepara uma bóia que tô morrendo de fome!

Dois filhos se acordaram com o barulho. Um desmaiou e outro correu pra chamar o padre. Pensando tratar-se de vozes de um sonho, Maria falou:

- Homem... Não se come do outro lado.
- Mas eu quero comer e pronto, levanta, tô com fome! - puxou o lençol.

Assim que acordou a ex-viúva teve um ataque e desmaiou.

Seu Menez deu as costas e dirigiu-se a cozinha.


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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung