Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Aniversariante



Ele não gostava de aniversários. Nunca ligou para amigo nenhum dando felicitações, pois sob sua ótica não havia motivos para comemorações; afinal de contas, dizia, “aniversário não passa de uma contagem regressiva pra cova?”
Apesar desse negativismo, muitos ligavam para saudá-lo quando chegava seu dia. E isso o irritava profundamente, às vezes até era grosseiro. Por isso, raramente a mesma pessoa ligava no ano seguinte.
Um dia, uma namorada com muita boa fé organizou uma festa surpresa. Foi um fracasso. Enquanto durou o mal humorado só resmungou, resultado: a festa existiu não mais do que quinze minutos. A cara de ódio do mundo foi a gota d’ água. Todos foram embora sem dizer adeus e reuniram-se num bar. Lá, entre uma cerveja e outra debateram sobre uma possível cura pra síndrome da aversão à data festiva do amigo ranzinza.
Após muita cachaça, brincadeiras e desabafos, chegaram ao denominador comum: a partir do ano seguinte ninguém ligaria ou faria qualquer menção de que estaria lembrado da data de aniversário daquele cidadão.
Dito e feito. Um ano passou e chegou o dia. Como sempre fazia há anos, o “antianiversário” não saiu de casa, ficou ao pé do telefone pronto para distribuir desaforos para quem ousasse parabenizá-lo. Entretanto, daquela vez deu oito, deu nove, deu dez, deu onze horas e nada. Ninguém ligou.
Ao sentir o peso do esquecimento, o “antianiversário” chorou e disse em soluços: "Me esqueceram".
Anoiteceu e ninguém entrou em contato, não recebeu  scrapzinho do Orkut, ninguém publicou em seu mural do facebook... Nem o deputado populista nem a financeira do seu carro mandaram cartão. Ele estava na fossa, mas foi a fossa que o estimulou a fazer alguma coisa pra não deixar aquela ocasião tão especial passar em branco. Enxugou a face, foi até um bar e bebeu suas mágoas.
Quando estava bem pra lá de Bagdá, mencionou ao bêbado mais próximo que aquela data era muito importante, era o dia em que ele veio ao mundo, que sorveu oxigênio e iniciou sua longa jornada... Era a data do seu aniversário. O bêbedo, entretanto, sorriu fazendo-o pensar que receberia um abraço, mas era apenas um sinal para o Garçom trazer mais uma dose. O “antianiversário” não se deu por satisfeito e tentou uma nova investida:
- Companheiro, acho que você não entendeu: Hoje é o meu dia... É o meu aniversário!
- Grande merda, mais um ano nessa vida fodida.
O antianiversário levantou-se e foi embora chorando pelas ruas de Ará.
Somente às seis da manhã voltou pra casa.
Tomou uma ducha, comeu e curou a ressaca num passeio a pé na orla. De uma longa volta e mesmo com muito sono resolveu ligar para Aline, sua amiga de infância.
- Alô! Aline?… Oi… Lindinha, desculpe por ligar essa hora, é rápido. Qual é a data do seu aniversário?… Já passou?… Não faz mal, que tal comemorarmos hoje?… Combinado? As sete passo aí… Ah! Antes que me esqueça, sabe a data de mais alguém?… ótimo, faça-me um favor, prepare uma listinha com os nomes e datas de aniversário de todos os nossos amigos que você lembrar e leve a noite.
Do outro lado da linha, diante daquela atitude inesperada, num susto, Aline acordou.

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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung