Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

sábado, 5 de março de 2011

Algumas coisas...



Algumas coisas acontecem o tempo todo desde o nosso nascimento, segundo a segundo, e entra ano e sai ano, não percebemos. Só nos damos conta quando já é tarde demais e só nos restam lágrimas de arrependimento, quando estamos no xeque-mate e devido a regra imutável do jogo não podemos mover mais nenhuma peça. Assim têm sido as relações humanas.
É certo que hoje poucos acreditam na instituição família, palavras como fidelidade, ou crenças como a da alma gêmea ou do sonho do “até que a morte os separe”... De quem será a culpa? Vivemos num mundo em que um Senhor de idade é esfaqueado no banheiro de Shopping, e que matar o maior número de pessoas é meta em jogo de vídeo-game para adolescentes, em que abraços e beijos de pais e filhos só acontecem em aniversário, natal e ano novo. Ás vezes nem isso. E então perguntamos: “aonde vamos parar”? Em verdade, deveríamos nos perguntar: Por que chegamos até aqui?
 
Viajemos no tempo...

No início havia um imenso terreno vazio, alagadiço. Aos poucos foi soterrado. Colocaram arenoso, e pedras. Menos do que realmente precisava. E foi aconselhado: - Dedique-se ao alicerce! Gaste tempo, amor e dedicação o quanto puder, para não ter dor de cabeça no futuro.
Conselho, como sempre, uns ouvem, outros não.  Mesmo com menos pedra e arenoso que precisava, levantou as paredes, e colocou o telhado. E mesmo antes de rebocar, ou por piso de cerâmica, mudaram-se e fizeram daquela construção um lar. A criança deu seus primeiros passos arranhando seus joelhos no barro “acentado” e brincando com os grilos, sapos e gias que transpassavam as frestas da parede nua em blocos. Com o passar dos anos, a criança aprendeu a falar. A casa ganhou um muro, depois do menino cortar a barriga com a cerca de zinco. Com a vinda do caçula, o lar ganhou paredes rebocadas, e um ventilador pra toda família, isso enquanto todos estivessem juntos, jantando. Depois era do Homem da casa. Afinal o caçula e as moscas que o marcavam já tinha naquela altura um certo laço de amizade. E as constantes micozes do mais velho já não era mais novidade. Calor ou menos calor não iria mudar nada. E a “Dona de casa” estava acostumada com alta temperatura, pois uma vez por mês fazia escova. Era uma família cheia de amor. Cada um se amava. Dividiam um mesmo teto. Cada um vivia a sua miséria em seu próprio mundo.
Durante a adolescência do mais velho as paredes ganharam uma pintura. A mãe formou-se no segundo grau graças ao supletivo e conseguiu o seu primeiro emprego. O pai era demitido pela oitava vez: a idade do mais novo. Com a esposa trabalhando adquiriram bens: televisão, rádio, DVD, ventilador de teto. O muro ganhou azulejos. O teto foi forrado de gesso, as paredes também, a casa estava linda. Mas vez por outra aparecia uma rachadura, a mais recente, a dona de casa viu depois que levou um soco e caiu no pé do fogão, daquele ângulo deu pra ver direitinho. Até esqueceu do sangue que escorria do nariz.
Engraçado: Apesar de estarem progredindo, eles ainda eram completos estranhos entre si. E por mais que a casa sofresse reformas em pouco tempo sempre apareciam novas rachaduras. Como a que o pai viu no piso quando o mais velho tentou matar o mais novo com uma facada, por ciúmes.
Um dia, num breve momento de lucidez o pai se perguntou: Aonde vamos parar? - Quando o mais correto era se perguntar como tinha chegado até ali. - É tão cômodo não nos fazermos certas perguntas, principalmente quando sabemos a resposta, e sabemos de quem é a culpa.
- Dedique-se ao alicerce! Gaste tempo, amor e dedicação, o quanto puder, para na ter dor de cabeça no futuro.
Pode ser piegas, pode ser meloso, pode ser um sonho... Mas mesmo assim, gaste todo tempo do mundo com o amor, ele é e sempre será o alicerce para nossa vida, senão sempre terás rachaduras ao longo da sua existência. E existir não é o mesmo que viver.

Um comentário:

  1. Há muitas perguntas do tipo: Que mundo é esse que estamos criando nossos filhos? Aonde vamos parar? O que leva um ser humano a fazer isso? Nunca é: Que espécie de filhos queremos criar para ter um mundo melhor? Será que não há como parar tanto mal? Como foi que a sociedade construiu um ser tão desumano?
    Excelente texto e nada piegas. Necessário. Também não é sonho. Quando alguém tenta reverter o que não vai bem, damos um passo à frente. Podemos mudar o que está ruim.

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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung