Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

terça-feira, 1 de março de 2011

Domingo



Assim que acordou Mônica decidiu tomar banho. Leandro, com intenções eróticas fez menção de acompanhá-la. Ela desistiu. Ele a olhou, mas não disse nada. Ela ligou a TV. Ele sentou-se ao lado, irritando-a. Como todo domingo, não passava nada que preste, mas naquele dia a programação era o de menos. A insistência dele é que a sufocava, há muito tempo o amor acabou, mas ele não aceitava, fingia que estava tudo bem. Bom para ele, bom para a família, bom para todos.
Praticamente cresceram juntos. Namoravam desde quando ela tinha nove e ele dezenove anos. No início, aproveitando-se do amor da garota pelo seu primeiro homem, ele a desprezou e não poupou humilhações. Os filhos vieram aos quinze e aos dezesseis anos, por isso abandonou a escola. Para ele, a gravidez não o impediu de perante os amigos a chamar de bofe, e, contar casos extraconjugais na frente de quem quer que seja. Aniversário de casamento, anos dos filhos? Ele nunca lembrou ou comprou qualquer presente... Nada. Machista, durante muito tempo a impediu de se divertir, mantinha-a enclausurada. Paciência tem limite, e a dela durou vinte e cinco anos.
Desde cedo Mônica preparou os filhos para serem independentes, e, quando estes chegaram ao ginásio, voltou a estudar. Fez supletivo para o primeiro e segundo grau. Com o diploma superior em mãos, conseguiu dois empregos. Com o passar dos anos, ele tornou-se parasita e feio. Ela, microempresária e linda.
Voltemos para o domingo: impaciente, Mônica abandonou a televisão, pegou um livro e foi pro quarto. Leandro ficou na sua frente, encarando-a. Ela se trancou no banheiro. Ele foi pra sala e ligou o som no máximo. Foi a gota d’ água.
- Porra! O que é que você quer?
- Há uma semana, você não fala comigo!
- Se toque meu amigo, eu não te quero mais!
- Isso não pode, eu te amo.
- Ama uma porra!
- Eu não sei viver sem você.
- Meu amor por você Leandro, morreu há muito tempo!
- Isso não pode! Deve haver nem que seja um pouquinho.
- São vinte e cinco anos Leandro. Eu agüentei esse tempo todo por causa dos meninos, mas eles já são independentes. Minha obrigação acabou, agora é com vocês.
- Os meninos não me interessam Mônica, só você!
- Eu preciso viver minha vida!
- Você sem mim não vai dar certo Mônica.
- Está me ameaçando?
- Sem você eu não sei do que seria capaz. Você é minha Mônica. - Disse em prantos.
- É a casa? Se for, não se preocupe, a casa é dos meninos e você é pai deles.
- Eu quero é você Mônica. Ajoelhou-se. - Me perdoa!
- Você é meu carma, Leandro, eu não mereço isso!
- Pelo amor de Deus, me perdoa!
Durante cerca de meia hora o silêncio reinou no último andar do Royal Palace.
- Está bem… Mas é sua última chance.\
- Eu te amo Mônica! - Pegou-a pelos braços e a beijou - Prometo que vou mudar.
- Não é a primeira vez que você diz isso.
- Eu vou mudar.
Em seguida os dois foram pra cama. Como sempre, só ele gozou. Saciado, decidiu passar a noite num bar com os amigos. Deu um último beijo e saiu. Enquanto o elevador subia pensou:
- E eu sou besta de largar essa mulher? Não tenho nada. Com diálogo e um pouco de ameaça, tudo se resolve. Essa mulher está na palma da minha mão.
No quarto, Mônica chorou muito. Quando a cabeça já pulsava de tanto chorar ela fitou o telefone.
- Alô! É do Aeroporto?… Tem vôo para New York?… Pra esta noite.

 

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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung