Olhe a barata
Dentro do cano d’água, agora.
Olhe a barata
Percorrendo a veia aorta.
Olhe a barata
Testemunhando o assassinato de Lorca.
Olhe a barata
Sob a porta
Vendo a criança que provou hóstia,
Morrer de cólera.
Olhe a barata
Vendo a sociedade hipócrita,
Pela bomba atômica ser morta.
Olhe a barata
Vendo a nascer à incógnita.
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Comentário: Essa foi a poesia mais inusitada que tive o privilégio de criar. Digo inusitada porque a idéia surgiu em plena Rua Itabaiana, quando ao passar por um dos inúmeros buracos que a DESO distribui pela cidade vi dois meninos de rua mergulhados na poça d´água formada. Confesso que fiquei estagnado com a cena e até lamentei não ter uma câmera fotográfica naquela ocasião. Num determinado instante vi um dos meninos falarem em tom de espanto peculiar da idade: “Olha... A barata está dentro do cano d´água agora.”... Não sei por que, fiquei com aquela frase na cabeça, martelando, crescendo... E ao entrar no Táxi lotação pensei: Será que eu consigo transformar isso num poema? Cheguei em casa e comecei a pensar... Dois depois o poema “Barata”. Em 1999, a Universidade Federal de Sergipe, congratulou o escritor Anderson Sant’ Anna com o 3º lugar na categoria poesia da edição do “CADERNO DO ESTUDANTE” daquele ano. Pois é... Os poemas estão ao nosso redor.
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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung