Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Maior Espetáculo da Terra




Era difícil lembrar quando tinha sido a última vez em que todos os animais tinham se reunido tão cedo, alguns nem conseguiram dormir de tão ansiosos que estavam. Havia muitos burburinhos. Uns diziam que o Leão estava velho, as cobras venenosas como não podia deixar de ser , espalharam o boato de que o Rei da selva estava curtindo um amor novo, e foi este suposto novo romance que botou na cabeça do líder amado e seguido por tantos anos de que chegara o momento de tirar o time de campo, de conquistar novos ares. Existia muita expectativa em torno daquele anunciado último discurso, mas nada superava o desejo que tudo não passasse de um sonho, de que no fundo, no fundo, o velho Leão anunciasse  que tudo não passava de uma brincadeira, de que nada mudaria. Os animais não gostavam de mudanças, porque para eles, normalmente, as mudanças não era boas.
O sol surgiu no horizonte lentamente, e numa espécie de combinação cósmica lançou feixes de luz que formaram um canhão luminoso natural. Era a deixa para o sábio Leão tomar o centro do picadeiro e falar aos seus súditos:
- Há 20 anos vocês me presentearam com o maior presente que uma criatura poderia ganhar, vocês me elegeram líder de vocês, e repetiram de forma espontânea e calorosa até hoje, este maravilhoso voto de confiança. E lembro como se fosse ontem, de que no primeiro dia como representante, guardei comigo, e tentei esconder o máximo que pude, um medo... Sim meus filhos, medo... Eu já esperava este olhar surpreso de vocês. Há 20 anos sou líder de vocês, e neste tempo tenho carregado este medo que sei que virá à tona hoje, quer eu queira ou não. Eu tive, tenho e sempre terei, meus filhos, súditos e amigos, medo de decepcioná-los. Mas hoje, o farei. De forma consciente, mas por uma razão que é maior do que eu e vocês. É necessário. Sei que muitos já se articulavam para me eleger novamente. Era por isso que andava “estranho” ultimamente. Era por isso que desconversava quando vinham me entrevistar como pré-candidato. Sei que todos estão surpresos. Mas garanto que eu também assim estou, pois não era a minha intenção. Por isso estou diante de vocês, vulnerável e transparente, e assim conseguirei dizer as minhas razões.
Antes, quero agradecer-lhes por tudo. Por terem apoiado todas as idéias novas e radicais, para alguns. Quem diria que conseguiríamos dar fim aos showmícios que serviam de subterfúgio para candidatos apadrinhados pelos magnatas pudessem se destacar e ameaçar a democracia.?E não me refiro à democracia matemática, da soma de votos, reviro-me à democracia social que aos poucos conquistamos! Quem diria que chegaria o dia em que o pobre votaria no pobre? Ou que candidatos com a ficha suja não poderiam pleitear um cargo como legítimo representante de vocês, meus amados e fieis amigos. Hoje sinto um misto de sentimentos, mas o maior de todos é a sensação de dever cumprido, e é por esta razão que anuncio que não vou me candidatar a reeleição, pois graças ao criador vocês não precisam mais de mim, e podem seguir em frente com as próprias pernas, escolhendo os próprios erros e acertos! Entretanto, apesar de já estar falando em tom de despedida, gostaria de submeter um último tema à votação.
Como todos sabem, meus ancestrais são de uma terra muito, muito distante. Uma terra que ainda não conhece a grau de excelência democrática que nós alcançamos: Para vocês terem idéia, lá as pessoas ainda elegem seus líderes de acordo com a coligação partidária, e através disso inúmeros acordos que comprometem todo governo, antes mesmo de começar, é firmado. Lá as pessoas ainda não votam em pobres. Votam no sobrinho, neto, afilhado, primo e etc. de alguém que tomou como patrimônio a honra de representar a sua comunidade. Lá as pessoas ainda acreditam que cargo de representante é um patrimônio que se passa às gerações, que a pessoa não está líder, mas que ela é líder. Isso me entristece. Sabendo disso meu primo me pediu socorro: queria que levasse a nossa maravilhosa experiência de democracia social, cultural e econômica, em que pessoas são eleitas por propostas, idéias, não por cifras milionárias em campanhas, fosse anunciada como uma possibilidade real àquela nação, e achava que eu seria a pessoa mais indicada para encabeçar este ambicioso projeto. Hesitei, confesso. Porém, como disse logo no início, creio que devo isso a vocês, e, sobretudo ao criador pelo dom de me fazer compreender e trabalhar a cada dia com o mesmo gás de um estagiário querendo mostrar serviço na sua primeira oportunidade empregatícia. É assim que me sinto.
Alguns podem estar se perguntando por que fiz esta assembléia, porque simplesmente não juntei as minhas malas e parti... A resposta é única. O cargo de representante de vocês, não me pertence!Não sou dono, ninguém o é! Por isso não posso aceitar proposta alguma de me coligar, me candidatar a qualquer outra coisa se não os consultar, pois não sou representante de vocês... Eu estou representante.
O Velho Leão terminou o discurso, baixou a cabeça e esperou em silêncio vaias, gritos acusando-o de traidor, covarde ou qualquer coisa parecida. Mas não ouviu nada. O picadeiro era silêncio absoluto. Até o céu nublou, pois o Sol também estava emocionado. Todos choraram mudos, comovidos e orgulhos por verem diante de si, um ser que realmente os representava.



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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung