Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O dia do Boletim




Naquele dia, Chiquinho voltou da escola meio desconfiado. Seus olhinhos percorreram os quatro cantos da casa e, quando ele ia correndo para o quarto ouviu o chamado da mãe:

- Chiquinho é você que taí?
- Sim mãe, sou eu.
- Que ocê tá esperando pra botá a mão na vassoura condenado?
- Já vou mãe!

Correu pra cozinha e encontrou a mãe pondo o almoço do dia muito sorridente, cantando antigas melodias sertanejas; certa de que ela não perceberia, pôs um pedaço de papel no canto da pia.

Em poucos minutos o papel foi encontrado.

- Fofinho que papé é esse? Indagou carinhosamente e fitando o tal papel com curiosidade.
- Ah! Mãe sei não, deixe vê. - analisou o papel e entregou. - Sorinha mandô nóis pedi pras mãe assiná nesse papel.
- Mode quê?
- Mode quê num sei, acho que é pra guardá.
- E esse número vermeio?
- Sei não mãe. "Andou até a porta, sondou o ambiente e depois de constatar que estava só perguntou:" - E pai, cadê?
- Chega de noite.
- Graças a virgem! "Ajoelhou-se e fez o sinal da cruz."
- Que foi menino?
- Nada não. "Levantou-se"

Dona Marta pegou uma caneta que estava no armário e começou a assinar, Chiquinho aguardava ansiosamente, estava demorado muito, mais que o normal, se bem que o normal da sua mãe analfabeta era um minuto, no mínimo, isto quando estava calma, entretanto, o ditado estava certo: O que é bom dura pouco, pois quando estava na metade a assinatura foi interrompida pela inesperada chegada do pai. Assim que ouviu a voz, Chiquinho escondeu-se.

- Querida cheguei morto de fome... Tô de folga, por isso vim mais cedo.
- Cadê Chiquinho?
- Não sei, tava aqui nesse instante.
- O Chiquinho!

Pressentindo a vinda de problemas, o menino saiu do esconderijo.

- Que você tava fazendo aí embaixo?
- Nada.

Pôs a mão na cabeça do filho e assanhou. Era como demonstrava seu amor. Em seguida voltou-se pra esposa e a beijou, um verdadeiro beijo de novela que fez o papel cair.

- Que papel é esse, Marta?
- Qual?

Agaixa-se e pega.

- Esse.
- Ah! É da sorinha dele.
- Deixe eu vê.
- Não! - Gritou Chiquinho tomando o papel.
- Por quê não?
- Por nada, além do mais o sinhô num gosta de vê coisa de escola…
- Gosto sim. Dá pra cá moleque!
- O quê?! Você está abaixo da média?

Chiquinho afastou-se do pai lentamente.

- Vem cá condenado, pra você aprender a tomar vergonha nessa cara lambida... Seu peste!

Começou a correr atrás do filho, mas não alcançou.

Os dois correram durante todo o dia, só pararam quando Chiquinho pulou na lagoa do parque da cidade e, começou a nadar para o centro dela. Ficou lá, flutuando de costas olhando para cara do pai que estava na beira da lagoa, gritando mil palavrões, inconformado por não saber nadar.





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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung