Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

De Médico e Louco Todo Mundo Tem Um Pouco


 Dizem que de poeta, cientista e louco todo mundo tem um pouco.
 Há controvérsias... Pelo menos em se tratando de poetas, pois a pessoa não nasce escrevendo sonetos, poesias...
Antes da criança se tornar poeta ela vai aprender a ler e com a ajuda de músicas infantis vai começar a avaliar as letras, estudar as rimas ou, em alguns casos, colecionar traumas, para só então despertar o “eu poético”.
 Lembra-se, por exemplo, da música que ouvia quando criança? Aquela: “Dorme Nenê[1] que a Cuca vem pegar (Quer dizer... Se dormisse estava lascado... Ferrado!) Papai foi pra roça, mamãe foi trabalhar. (Eles sabiam que a Cuca vinha... E um foi pra roça (de noite?) e a Mamãe foi trabalhar...” (de noite? Mamãe tem vida noturna?... E queriam que a criança dormisse depois destas revelações? Como?)
E aquela? Atirei o pau no gato[2]... (Por que alguém simplesmente atiraria o pau no gato? Por nada? Porque deu vontade?) Mas o gato não morreu... (O pior é que a professorinha, do pré-primário, cantava sorrindo.) E Dona Chica?! Ela admirou-se com o berro que o gato deu: Miaaauuu!... (Era uma tortura cantada!) E os escravos de Jô? Jogavam Caxangá? Que diabo é Caxangá gente? E aquela sacanagem? Tira... Bota... Tira... Bota... Deixe Zé Pereira entrar? Enfim...
Depois deste afloramento musical na fase infantil, normalmente o poeta fica adormecido. E é posto pra fora em algumas circunstâncias ou através de algumas técnicas. Entre elas, quando estiver mal, deprimido, ligue para amigos e ouça conselhos.
Há algum tempo, por exemplo, enquanto vivia num inferno astral, um certo poeta ligou pra um amigo e contou seu drama: “Tô to mal... Barari, bororó... E contou sua história. Quando terminou ouviu chegando do outro lado da linha um carinhoso “Foda-se.” Chocado, o poeta resolveu ligar para outro amigo que logo sugeriu: Ligue a TV, ou rádio... Distraia a cabeça... E o poeta, de fossa às 2h da manhã, ligou o rádio. Ele sintonizou a 104.9 e estava tocando a música do filme Ghost – Unchaine Melody. Foi pra 103.1 e o que estava tocando? Paulo Ricardo... “Quando você disse nunca mais...” Quer dizer... O cara que já estava triste foi piorando. Afinal, o repertório musical das nossas rádios, durante a madrugada, é capaz de deprimir o cara que recebe a notícia de que passou em primeiro lugar no Vestibular da UFS para medicina... É impossível não ficar pra baixo. Certa feita, depois de passear por tantas estações o cidadão sintonizou um programa religioso. O Pastor tinha acabado de atender um telefone:
 “Bom dia meu amigo, minha amiga... São duas horas e 15min... Abra seu coração... O que te aflige? – Houve um silêncio – E do outro lado alguém falou com voz grossa: (parecida com a do filme “O Exorcista” - Aqui é o Cão – E o Pastor percebendo que se tratava de um trote, sem querer perder o gancho, rebateu prontamente: Ta vendo meu amigo, minha amiga ouvinte?! O cão não dorme!”.
Concluindo, se estiver deprimido... Pelo amor de Deus, não ligue o rádio!
O bom é que após essa seção de sofrimento o poeta nasce. Escreve poemas que todo mundo gosta. Escritos à sangue, suor e lágrimas. Entretanto, faz-se necessário ter cuidado com versos incompletos, pois fora do contexto podem até virar caso de polícia. Pense:
Sabe aquela música “Detalhes” que Roberto Carlos canta: “Não adianta nem tentar me esquecer, durante muito tempo em sua vida, eu vou viver...” Lindo, não é? Agora, imagine que você termina com a namorada ou namorado, e recebe somente este trecho como torpedo?
“Não adianta nem tentar me esquecer, durante muito tempo em sua vida, eu vou viver...”
É ou não é uma ameaça? É caso de BO!
Outra música que faz pensar na viagem que o poeta-compositor se encontrava ao escrever é mais ou menos assim: “Aquela nuvem que passa... Lá em cima sou eu...” e “Vou cavalgar por toda noite... Por uma estrada colorida... – Muito doido, não? O porta estava vendo tudo colorido...” Enfim.
Ao virar compositor, algumas vezes, se empolga e viaja na maionese. Há alguns exemplos curiosos desse fenômeno: A música Nega do cabelo duro[3] por exemplo: Nega do Cabelo duro, que não gosta de pentear, quando passa pela boca do túnel, o negão começa a gritar: pega ela aí... Pega ela aí... Pra quê?... Pra passar batom.
Que tal exercitar a imaginação? Vamos construir esta cena musical. “Numa bela manhã de segunda feira... A nega de cabelo duro, (porque não gosta de pentear) passa pelo túnel... - Tanto lugar pra ir, ela quis dar uma passeiozinho matinal no túnel? É tão bom aspirar toda a poluição dos autos, não é? - Eis que de repente surge um negão gritando: Pega ela aí... Pega ela aí... (E como em toda esquina, viaduto, posto de gasolina tem viatura policial...) A guarnição rende a moça e um cabo pergunta: - Pega ela pra quê? – E o rapaz responde – Pra passar batom – o sargento pergunta, já segurando a moça: Que cor? – E o moço – Cor de violeta?” – Gente... Violeta? Quem era esse cara? De alguma gangue fashion? E o recruta CTSP pergunta... Pra passar onde? E o cidadão: Na boca e na bochecha... Perceberam a urgência e a precisão? Na boca e na bochecha. Enfim.
Falando em interpretação de letras, tem uma música de Adriana Calcanhoto, que graças ao seu doce tom, ninguém percebe a sacanagem da coisa. Ao ouvir a música “Vambora” imagine uma mulher numa dessas pousadas da vida, dando uma escapulida para o amor, e antes de começar a fazer amor, começa a cantarolar: - “Entre por essa porta agora e diga que me adora. Você tem meia hora pra mudar minha vida... Vem, vambora que o que você demora...
Neste processo de formação do poeta é importante estudar alguns poemas clássicos como “OS LUSÍADAS”, mas também, não menos importante o poeta também deve estudar algumas letras de música... Entretanto, quando você se arriscar a tentar analisar a letra de algumas músicas, certamente vai se sentir burro. Porque simplesmente não é possível entendê-las. Por exemplo:
Vamos começar com Caetano – Baby – Você, precisa saber da piscina... (por quê?)... Da margarina (Por quê?), da gasolina (Por quê?)... Você precisa saber de mim... Baby, Baby... Eu sei que é assim. Ou aquela – “Atrás do trio elétrico”: - Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu (lindo... até aí tudo bem)... Quem botou pra rachar aprendeu que é do outro lado do lado de lá do lado que é do lado, de lá... – Gente, considerando na vista aérea o trio elétrico é um retângulo vamos tentar acompanhar a localização do não sei o que da música: - aprendeu que é do outro lado do lado de lá do lado que é do lado, de lá...
Vamos a outra pérola, quem canta é Netinho. (Beijo na boca): - Foi sem querer que eu beijei a sai boca, menina tão louca... Eu quero te beijar... Beijo na boca seu corpo no meu suado... Tem sabor de pecado... Com jeito de bem-me-quer... Lindo isso não? Romântico... Caliente... Até emociona a gente. Mas o problema não vem daí... O problema é o verso seguinte.  Vejam a continuidade do raciocínio... – Todo dia é festa na Bahia, e o trio irradia alegria. O farol ilumina Salvador. Todo dia é festa em Salvador... – O casal da primeira estrofe, que num clima erótico falava em beijo na boca, sumiu... Escafedeu!
Tem uma Do Chiclete, de Bell, que também é incompreensível: Durvalino Meu Rei... – “Iarará Suba esta escada... Que eu conto pra ninguém... Se vista de Pantera... Se descubra neném.
Daniela Mercury tem duas pérolas: O canto da Cidade – Mil voltas o mundo tem, mas tem um ponto final... Eu sou o primeiro que canta... Eu sou o carnaval. E aquela, Swing da Cor:  Vem pro Swing da cor... Relaxar o calor e quem sabe me amarrar. Vem, o teu sorriso é pequeno no teu beijo tem veneno... Está querendo me apaixonar... - Até aí tudo lindo, agora vem a melhor parte – Te curupaco Kioiô... Eu sou Muzenza Iarauê... Aia ulêlêlê lêlê aia lêlê aia Com o Muzenza eu vou há, há, há, há...
Agora, quem é mestre é mestre. Vamos nos atrever a estudar uma música de Carlinhos Brown: - Se eu amar, você amar, não vai faltar amor.  Se eu amar, você amar, a gente faz o show. Tô piano copiando os teus passos.  Cigano tô no mimo agitando  do teu lado vibrando.  Pra quê zum zum zum? Pra quê? zum zum zum Zum zum zum pra quê? Zum zum zum? Pra quê? Zum zum zum pra quê? zum zum  Não censure a minha farra!  Deixe o desejo roubar.  Quem pesca com linha e vara não precisa de alvará.  Lalá meu camarada  Evoé a batucada. Cantando a luz ê. Cantando a luz ê. Cantando a luz ê. Cantando a luz.  Já nasceu, vai nascer.  Vai nascer já nasceu. Zum zum zum pra quê?  Zum zum zum pra quê?  Zum zum zum pra quê zum zum?

Viu? Não há dúvidas, de cientista e louco todo mundo pode ter um pouco, mas em se tratando de poetas e compositores, definitivamente isso não se aplica.






[1] Inspirado em trecho de monólogo de Danilo Gentile
[2] Inspirado em trecho de monólogo de Rafinha Bastos
[3] Adaptado do monólogo de Caruso sobre a música Nega do cabelo duro.



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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung