Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Capitalista, O Eremita e O Revolucionário




O dia começa, e com ele, novas desgraças nos são apresentadas através dos telejornais, dando-nos a falsa impressão de que tudo está perdido. Somos informados sobre o sequestro de um motorista de ônibus que não quis conduzir dois fugitivos para longe da cadeia, somos vítimas da máfia do comércio que superfatura o preço dos produtos, de gestores que terceirizam escancaradamente serviços públicos, de políticos mal intencionados que desviam verbas que deveriam servir para garantir saúde, educação e vida com um mínimo de dignidade... - Falando em políticos, já reparou como as campanhas publicitárias partidárias tentam nos convencer que aquelas pessoas sorridentes do comercial pegam o mesmo ônibus que você, são furtadas como você foi furtado no Terminal de Integração, levaram um tombo como você levou por causa de uma frenagem brusca do motorista despreparado que atende a todos com uma cara de ódio do mundo, e de que a sua cidade está às “mil maravilhas”?... - Não seria bom viver naquela cidade, estado e país dos horários políticos? - Como não bastasse, somos vítimas de nós mesmos, dia após dia, quando ao invés de seguir em frente, só damos ouvidos ou gastamos nosso precioso tempo com lamentações.
Há tanta coisa errada e ninguém vê; ou finge. Lutamos pelas eleições diretas, “tiramos” um presidente do poder e nada mudou. Pra se ter uma ideia aos profissionais que cuidam do maior bem que Deus nos deu, o dom da vida, através do policiamento ostensivo, trabalham sob o manto de uma legislação da época de ouro da ditadura militar. Entretanto, a esperança ainda nos aconselha a fazer greve, manifestações, caminhadas, resistirmos, mas somos presos, processados, apanhamos e perdemos o emprego. E nada muda.
O povo está cansado, pois sabe que no fim da vida há três caminhos: Basta visitar quaisquer asilos e prestar um pouco de atenção.
Há o capitalista que durante a juventude teve do bom e do melhor, e hoje, só tem a mágoa da usura de parentes que tomaram todos os seus bens, deixando-o apenas com a roupa do corpo, revivendo a decepção em cada lágrima. Diz que tem mais motivos para viver, só lhe resta a exclusão que é a sua passagem para a morte.
Há o eremita que se isolou do mundo aceitando a televisão como companheira inseparável, e dona da verdade absoluta. Não tem amigos, diversão, para ele as desgraças alheias dos telejornais são apenas capítulos de um péssimo folhetim. Não tem amor para com o próximo, não é solidário, acha que Deus esqueceu-se da humanidade, e o que é pior, dele.
E há o revolucionário cheio de cicatrizes, que caminhando a muito custo grita aos prantos que a vida só vale a pena ser vivida, se o indivíduo não se conforma ou jamais se conformará vendo um irmão ser discriminado seja por qualquer motivo, não aceitar a exploração do trabalhador seja na esfera privada ou pública, não engolir o sapo gordo da impunidade, não recepcionar intervenções do estado quando este não deveria agir, a exemplo da desnecessária “lei das palmadas” e ausência de ação do mesmo estado quando pessoas morrem nos quatro cantos da República Federativa do Brasil, em pleno 2011, em virtude de hipossuficiência econômica, que acredita que a vida só deve ser vivida se for com dignidade.





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Comentário:

Esta crônica também foi escrita em meados de 2001. O tema veio da ideia central do meu primeiro livro de contos e crônicas “O Girassol que não Girava” que tinha a pretensão de colecionar pensamentos e reflexões sobre o nosso cotidiano. Também um resgate da época do menino-escritor-engajado presente no livro de poesias “Frenesi”, onde ao contar 14 anos escrevia muitas poesias de conotação política. O título original desta crônica era “Três Caminhos”, mas mostrou-se muito genérico e deslocado da proposta do texto. É bom recordar. Só não é bom ver que quase nada mudou.

 


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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung