Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A MENSAGEM



Naquele 08 de janeiro de 2015, despertei de forma incomum. Os raios solares pareciam brincar com meus cílios com toques de luz, insistindo em me arrancar do torpor do sono. Tentei, em vão, recobrar o esquecimento do adormecer, mas havia uma ternura especial naquela manhã, algo que ia além do calor suave que invadia o quarto. Era como se cada fio de luz fosse um chamado, uma carícia que me envolvia lentamente, compelindo-me a abrir os olhos. E, assim, ainda que a contragosto, fui cedendo.


Lembro-me claramente que, ao abrir os olhos semicerrados, tive a certeza inusitada de que estava acordado, mesmo ainda preso à sonolência. O coração, acelerado, dava-me essa convicção. Instintivamente, me belisquei, e depois belisquei o colchão, como que testando a tangibilidade do momento. Não estava dormindo, disso não havia dúvidas. O amanhecer se derramava pelo quarto em uma coreografia lenta e sublime. Os raios do sol, entrando pelas frestas da janela, tingiam o ambiente com um dourado que se espalhava como se fosse uma pintura viva. Era como se um coral angelical estivesse se formando à minha volta, tecendo música e luz no ar.





Por alguns segundos, senti um arrepio de espanto ao perceber que o quarto, até então silencioso, estava cheio. Estava rodeado por figuras, tantas, de idades variadas, homens e mulheres de todas as etnias e expressões. Meus olhos arregalaram-se, e, instintivamente, virei-me para o lado. Minha esposa dormia profundamente, indiferente àquela presença misteriosa que me circundava. Havia algo familiar, algo sublime naquele aglomerado de seres que, aos poucos, reconheci como anjos.


Subitamente, uma voz suave pronunciou meu nome:


— Anderson.


Meus olhos foram atraídos para a porta. Lá, um casal. Não sabia por quê, mas uma serenidade tomou conta de mim ao vê-los. O homem e a mulher irradiavam uma paz incomum, uma bondade que transcendia o ordinário. Entre eles, uma menina de cerca de cinco anos, com cachos dourados e um sorriso doce que iluminava o ambiente. Seu olhar era terno, e, ao vê-la, meu coração reconheceu algo que a mente ainda não conseguia explicar. Olhando bem, poderia jurar que aquele casal lembrava imagens sagradas — Maria e José, talvez. A menina que sorria parecia carregada de uma essência celestial.





O casal, sem dizer muito, sorriu para mim. Os anjos ao redor fizeram o mesmo, todos envoltos numa aura de luz. E, com um gesto suave, apontaram para a menina, enquanto as palavras flutuavam no ar com uma leveza impossível de descrever.


— Parabéns! — disseram em uníssono.


O eco dessas palavras foi acompanhado por um coro. "Parabéns! Parabéns! Parabéns!" As vozes celestiais repetiam, como se fossem parte de uma melodia divina que preenchia cada canto do quarto. Não havia dúvida, aquela era uma mensagem que não podia ser ignorada.





O casal então falou de novo, com uma certeza que me atravessou o espírito:


— Você vai ter muito orgulho dela. Vai dar tudo certo. Sempre vamos acompanhá-la. Não se preocupe. Parabéns!


E, antes que pudesse reagir, acordei. Simplesmente assim. O quarto estava agora vazio, iluminado apenas pelos mesmos raios de sol, mas tudo estava diferente dentro de mim. Uma leveza extraordinária tomava conta de cada parte do meu ser. Nunca, em toda a minha vida, eu havia sentido tamanha alegria, tamanha paz. Acordei com uma certeza que não poderia explicar, mas que vibrava em meu peito com a força de um acontecimento inescapável: eu seria pai. E não apenas pai — seria pai de uma menina.


Quinze dias se passaram até que minha esposa começasse a sentir os primeiros sinais de gravidez. A notícia veio com a confirmação dos exames: estávamos grávidos. Fiquei em choque, absorvendo o fato de que, em breve, um pequeno ser humano viria ao mundo sob minha responsabilidade. Eu seria o guardião, o protetor de uma alma nova. E, naquele momento, lembrei-me do sonho. Lembrei-me da menina de cachos dourados, do casal celestial, e das palavras que ecoavam com uma verdade profunda: “Parabéns! Parabéns!”


O sonho, que antes parecia etéreo e distante, agora pulsava como uma profecia, uma bênção. Minha filha estava a caminho, e meu coração já transbordava de amor.

Por Anderson Teinassis dia 10 de setembro de 2024






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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung