Trata-se de uma espécie de "Menu Cultural" do que o escritor vem produzindo no campo da poesia,conto, crônica,roteiro de cinema e TV,peça de teatro, e recentemente: novelas on-line. Além de compartilhamento de pensamentos e troca de experiências com todos aqueles que de alguma forma colaboram com a cultura sergipana.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Mulher Só...




Após o almoço, contra a vontade, preparou-se para retornar ao trabalho. Como sempre, uma longa preparação. O sono durante a cesta era inevitável. De dez em dez minutos o relógio disparava o alarme, até o instante em que tinha ânimo para se levantar e ir ao ponto de ônibus.
No percurso, enquanto falava pelo celular com mais um credor sobre quando receberia, ou melhor, quando pagaria… Viu algo inesperado: Entre tantos passageiros que falavam futilidades, cutucavam-se, xingavam cobrador e motorista, entrevistavam e eram entrevistados, furtavam e eram furtados, havia uma mulher só, chorando.
A mulher só, na verdade, era uma senhora. Incrivelmente senhora. Ele não sabia se era por efeito da demora, mas a face dela se desfigurava cada vez mais. Ela chorava discretamente, para dentro de si. Apenas os olhos vacilavam e insistiam em mostrar o que ela tentava ocultar com certo esforço. Certamente não queria que as pessoas tivessem pena dela. Não sabia dizer se estava com pena ou inquieto. É... Essa é a palavra. Talvez ninguém tenha percebido a mulher só, e se perceberam, fingiram muito bem o contrário.
Ele teve vontade de procurar confortá-la, de perguntar sobre a história por trás das lágrimas, mas não foi porque algo lhe dizia que ela queria… Precisava sofrer só. Além do mais, teve que descer.
No elevador da empresa, e durante toda a tarde daquele dia ele não pensou em outra coisa.

 
 

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Comentário:

Esta crônica veio a partir da reflexão da multidão de seres isolados, solitários, que nos tornamos. Em tempos de Orkut, Facebook, MSN, etc., muitas vezes sequer damos um bom dia ao colega da poltrona ao lado, ou simplesmente cumprimentamos o vizinho e perguntamos se está tudo bem, se precisa de alguma coisa. Deixamos de exercitar o amor ao próximo.


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"Conheça todas as teorias, domine as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." - Gustav Jung